quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

O que há de bom na inveja.

Você já devia saber que sempre haverá esses maus elementos. Sempre que a tua felicidade chega ao pico, é preciso lembrar que a raiva de alguns também aumenta. Quanto mais alta for a escada, mais baixo será o que ficar parado no chão. Então, sempre que o teu bem-estar atingir níveis extremos, a inveja lá embaixo também atingirá. Então não se preocupe. Eu já disse e repito pra que você esqueça esse rastro negro que temem em colocar nos sorrisos mais felizes, e viva o que quiser viver. Pense pelo lado bom. Não é mais gratificante atingir algo quando se nada contra a correnteza? Quando há obstáculos no caminho? Assim são os invejosos. Fazem de tudo pra frear o teu êxito. Mas acabam tornando a linha de chegada um mar de rosas ainda maior. Afinal, não existe doce sem o amargo. Não há felicidade sem a lágrima. E não há prazer nesse mundo que se sustente sem a dor.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Sobre felicidade.

Felicidade, pensava ela, era gostosa assim porque era uma das coisas mais intangíveis que existiam nessa vida. E só vinha em ondas. Assim, de repente. Sensação de anestesia. Coisa invadindo mesmo. Chutando a porta de você e entrando como rainha, já conhecedora da casa que havia deixado por uns tempos. Talvez estivesse de férias...mas nao importava. Dessa vez chegara forte. Ou talvez fosse ela que estivesse fraca? Também não importava. O que realmente devia ser levado em conta é que a felicidade havia chegado. Era meio rosa. Amarela. Laranja. Quase um sol se pondo. Não! Nascendo. Sim, porque agora as coisas nasciam na vida dela. Fazia questão de aniquilar as velhas. Pois não eram lembranças. Eram lixo. Lixo podre. E no lixo havia dias, momentos, acontecimentos pontuais e, principalmente, pessoas.
Já havia feito a cova do ano de 2010. Orgulhosa estava só do finalzinho dele. Mas o final era tão disfarçado de 2011 que podia vir pra ala das coisas novas. E realmente importantes. E que todo o resto se apagasse. Era assim que pensava. Era assim que se sentia. E tinha todo, mas todo o direito.
Felicidade...repetia ela. Respirando um ar novo.
Felicidade. Parecia um fantasminha. Ela não via. Mas sentia a felicidade brincar com sua boca, colocando sorriso bobo e fácil. Ouvia a risada de dentro dela mesma. E sentia as cócegas que a vida agora lhe fazia.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Tempo rei

Ah, ela tinha saudade sim.
Dessas coisas que produzem sorrisos de graça. Tinha saudade de dormir até tarde. De sair pro sol e só voltar pra casa quando ele voltasse também. E, ainda por cima, tendo o prazer de degustar aquela longa despedida de todos os fins de tarde, para a qual a sua cidade sabia ser o melhor palco do mundo. Tinha saudade dos 18 anos que sentia não ter completado. Saudade da bicicleta na orla, com vento. E sem relógio. Saudade da cerveja com mesa na rua. Do futebol. Sentia falta de sair e voltar com a manhã lhe pedindo pra ir pra casa. Fazia falta também o cinema, não perder um filme sequer. Sentia saudade do namorado, pra quem nunca havia tido muito tempo. Até os dias de chuvas torrenciais faziam falta. Porque esses dias, ao contrário do que pensam, não são de tristeza ou tédio. São dias de lugar aconchegante, livro bom, todo mundo na mesma casa, baralho na mesa, conversa sem pé nem cabeça e a simples e prazerosa sensação de não fazer absolutamente nada.
Sim, alguns diziam que ela estudava demais. Que se preocupava demais. Que era irritada demais.
Mas ela sabia o que estava fazendo. E se tinha algo de que ela não abria mão, era de um objetivo traçado. Entrou na cabeça, pronto. Só sossega quando puder aplaudir toda a sua dedicação. Que leve meses, 1 ano, 2 anos, 3 anos. Isso não importava. O que queria era a conquista que havia saído pra caçar.
Mas isso era caro. E ela, assim como todos, não tinha energias infinitas. Torcia pelo fim disso. Há tempos que não se reconhecia mais. Pela cor pálida que já a incomodava. Pelo sono acumulado. Pela grosseria que às vezes saía de sua boca pra quem não merecia pagar por isso. Ela não era assim.
Era mais livre que isso.
Talvez fosse drama, pensava. Mas logo sentia que não. Estava no seu completo direito de pedir arrego. De implorar pela passagem rápida dos dias e dessa rotina já forçada, automática, desgastante e difícil. Sim, difícil. E não ouse dizer a ela que ela ainda não conhece as verdadeiras dificuldades da vida. Cada um atravessa os obstáculos de acordo com sua experiência de vida e/ou condição não escolhida. E enquanto fosse aquela menininha em crise, estaria exausta e não a enxergaria em seus próprios olhos castanhos, toda manhã quando se encarava no espelho. Até a imagem a incomodava. Porque dentro do corpo cansado, mas resistente, havia uma alma já em pedaços, gritando com todas as forças pela fuga.
Achavam que tudo isso era pela fase decisiva que atravessava nos estudos.
Mal sabiam eles...que, além da cabeça derrotada, da perda excessiva de peso que não havia procurado e dos olhinhos querendo dormir, o coração tinha dado trabalho esse ano. E pedia, com toda razão, por momentos de renovação, de ânimo e de vida.

"Já vai passar" , repetia baixinho, todas as noites, antes de dormir.
"Já está passando", respondia outra voz, alguém que ela não sabia dizer quem. Mas que a confortava toda vez que fechava os olhos.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Surto


'Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma. Até quando o corpo pede um pouco mais de alma.'

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Fim dos moldes

É um apelo. A única coisa que peço. É que este mundo aceite mudanças. Que não haja repressão quanto à personalidade. Que não haja depressão eterna e dramática pelo fim de um grande amor. Eu peço que aceitem, todos os dias, a mutabilidade da vida. Vocês sabem (eu sei que sabem), que a vida é um processo. E como tal, não permite estagnação. Definir-se É estagnação. Tem dias que você acorda com aquela espinha no rosto. Outros dias, parece que cresceu mais cabelo. Ou então, acordou mais magro. Às vezes acorda com uma vontade louca de comer doce. Outras vezes, acorda sem vontade de acordar. E quando o dia realmente começa, tem tanta gente nova que aparece. Mas o que eu quero destacar é aquilo que você teima em negar. Tenho certeza de que, a cada dia, suas vontades mudam também. Às vezes dá vontade de inovar. E você se prende. Porque toda uma platéia está a te vigiar. Por favor, esqueça. Por favor, eu peço que valorize a vontade de ser outro. Se isso não for prejudicar ninguém, faça. Reprimir desejos é a pior tortura que alguém pode fazer a si mesmo.

Valorize a mudança, meu amigo.

Porque já disse a Biologia.
Só evolui a espécie que muda.

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Despedida

Meu bem,

Se há algo que perdemos nessa vida, não é a companhia dele, as fotografias dela ou a confiança dos outros.
São canetas Bic, elásticos de cabelo, um só brinco do par e a paciência para o amor.

Mas, nada de pânico.

Essa última é que nem criança no shopping. Logo, logo alguém anuncia pra você ir lá buscar no setor infantil do piso 2.
A paciência é algo assim.  De repente alguém vem e te anuncia que encontraram a danada lá em outro coração.

sábado, 27 de novembro de 2010

Tesoura da sua vida

Estava eu, ontem, naqueles dias vestibuláveis que já conto as horas para que terminem. Com a paciência que finjo ter no presente momento da minha vida, eu estava escrevendo um texto, desejando que a UERJ explodisse. Era sobre proibições na vida do homem. Enfim, só sei que no meio daquele super passatempo sacrificante pra uma noite de sexta, começam a gritar as crianças da casa do lado. Tem tipo um pátio/garagem ao ar livre que, todos os dias, vira um parque de diversões. Elas gritavam. E a redação travou. Elas gritavam e eu acompanhava com o ouvido a brincadeira. A irritação subiu à garganta e, como uma boa e cansada vestibulanda, quem gritou fui eu aqui em casa:


- Mãe, ATÉ QUE HORAS A LEI DO SILÊNCIO PERMITE FAZER BARULHO NA RUA?

(Sim, eu estava incluindo a brincadeira das crianças como um tópico da Lei do Silêncio. Isso se chama estresse).

- Até 22h, filha, por quê?

- Porque essas crianças só conseguem brincar se tiverem um ataque de histeria. São 21:30, se não pararem até 22h eu vou lá. Você não acha isso um absurdo?

Ela riu. O que aumenta ainda mais a irritação numa hora dessas.

-Luiza, elas estão brincando. Você também gritava quando descia pra brincar.

- Não, não. Eu brincava normalmente, sem ignorar que vizinhos existiam, independente do meu mundo mágico da infância.


Enfim. Eu não desci, e isso é óbvio. Desisti do texto e fui arejar a cabeça, ver um filme, comer algo na varanda. E ri um pouco, sozinha, de mim e dos meus pensamentos de alguns dias difíceis. Eu queria chegar lá e mandar todos calarem a boca. Tipo cortar a graça. Por causa da lei do silêncio e, pior, por causa da minha redação. “Não pode. Não pode gritar agora. Todo mundo calado.”

E aí viagem começou.


Penso que esses cortes no viver do homem podem dar um ar de disciplina pra quem vê de longe. Mas no fundo, bem no fundo, fica um desejo que não morre assim por decreto não. Pelo contrário, fica forte, como se fosse um protesto pela tentativa de homicídio que ele (o desejo) sofre todo dia. É que nem saudade. Quanto mais se tenta suprimi-la, mais fortalecida ela fica. Assim é, pois, o desejo humano de ser livre. E olhe o que estou lhe falando...a própria natureza me prova que é assim: desses cortes repentinos, cresce mais e mais o que você tentou disciplinar. Sim, digo natureza porque ela já cansou de demonstrar: quando se poda o ramo de uma árvore, crescem ramos laterais. É assim. Não me faça explicar. Você corta uma ponta-mãe, e crescem, então, as pontinhas-filhas pelos lados, deixando a árvore com a copa mais gordinha. E então ela ri de você e de sua tesoura estraga-prazeres (caso a sua intenção fosse realmente diminuí-la).



Por favor, não pensem que eu não sei que a vida em uma sociedade racional seria completamente inviável não fosse o mínimo de consenso proporcionado por alguns pontos da lei. Mas o que quero lhe dizer, leitor, é que não se pode utilizar a tesoura estraga-prazeres com pessoas, assim, de repente. Não estou aqui para fornecer uma revolucionária alternativa às normas para que todos sejam bonitos e felizes, ao mesmo tempo. Não. Mas você me entende...só estou dizendo que a supressão da liberdade do jeito que é aplicada não está sendo eficaz. Ninguém deixa de usar drogas porque é proibido. Outro dia um indivíduo correu pelado na praia de Botafogo. E isso é proibido. Já vi um casal de namoradas receber uma “advertência” do segurança de uma boate não-gls por darem um selinho. Na (limitada) cabeça de muitas pessoas, isso é proibido. Meu Deus. Será mesmo que PROIBIR é tipo uma palavra mágica? “Não pode”, “Ta bom”. Se a coisa proibida não remeter a crimes de assassinatos, roubos e outras atrocidades unanimemente proibidas (por motivos óbvios), então é preciso tomar cuidado. Cortar o prazer, apagar a luz do show, expulsar a platéia ou os convidados da festa cultivam uma coisa em potencial lá no fundo, fruto de uma supressão do desejo próprio do homem. Fruto de uma equivalência errada do ser humano a pontas de cabelo, borrões de lápis e manchas na blusa. Você corta, corrige. Você apaga, corrige. Você lava, corrige. Mas você proíbe, e corrige?



Eu poderia continuar falando e desabafando com você que teve a paciência de chegar até esta linha. Poderia discutir com você, então, qual é a melhor forma de “corrigir” o homem. Mas isso é outra história. Agora, eu termino esperando que amanhã aquelas crianças gritem muito. Mas provocativamente muito. E eu inclusive jogarei uma faixa pintada por minhas próprias mãos, para que elas pendurem orgulhosamente no gol do futebol (a origem de todos os gritos) em frente à minha varanda:



“SOMOS FELIZES, NÃO PERTURBE”


Luiza Toledo.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Um brinde

De vez em quando sinto aquele ímpeto de renovação individual antes do reveillon. Sim, porque no reveillon ninguém está imune à gostosa sensação de que tudo será diferente no ano que se inicia. Vontade de sorrir. A roupa branca dando um ar de limpeza da sala antes ocupada pelo ano que se despede. E a casa nova pronta para receber o mais novo integrante da sua vida, o ano novo. Todo o turbilhão de emoções é natural dessa data. Mas o que tenho para lhe falar hoje é que meu ano novo chegou antecipado. Veio me consolar dando uma amostra de boas surpresas e acabou me colocando em um clima bom, renovado e, finalmente, disposto. O bom da vida é ser esse processo não cíclico. Quando você acha que já pode ser comparado a um móvel velho e empoeirado, a uma relíquia da natureza ou a um robô e sua rotina, vem uma coisa e surpreende. Um belo dia hoje. E eu só precisei fotografar um par de olhos pra que ele valesse a pena. Fotografo com os meus próprios. Porque nada é um banco de dados tão perfeito quanto a mente humana. Ou seria o coração?

"Os ventos que às vezes tiram algo que amamos são os mesmos que trazem algo que aprendemos a amar."

Feliz ano novo.

domingo, 14 de novembro de 2010

Desconhecido

Conheço tudo de você. O seu prato preferido. O lugar de que mais gosta. Sei que ama o pôr-do-sol. Não gosta de acordar cedo. Sei dos livros que te atraem. Sei do teu medo maior. Sei que gosta de cigarros. Sei que ama chocolate. Sei que gosta de cerveja. Sei que a praia é teu lugar. Conheço bem o teu sorriso. A tua cara de cansaço. Sei qual é o teu perfume. O desenho do all-star. Eu copio a tua letra. Eu conheço a tua música. Não larga o violão. Não engole desaforos. Não aceita injustiça. Quando é sol tu queres mar. Quando é chuva, mar também. Conheço a tua silhueta. Cada curva do teu corpo. Cada traço do teu rosto. Sei que gosta de rir alto. O cinema é relaxante. As viagens, tentadoras. Sei da mancha da tua íris. Sei de todas as manias. Mão no cabelo. Mão na nuca. Mordida no lábio. Riso de lado. Dedo estalado. Eu conheço a tua voz. O tom, o timbre e a frequencia. Tanta coisa, bem querer. Conheço a fundo o teu estilo. Tanta coisa, meu amor. Mas o teu coração, meu bem, é um mar de obscuridade. Caixinha de códigos em braile trancada a 7 chaves.

Por quem te conhece de verdade.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Nós

Nunca estás sozinho. Há dias em que precisas de outros braços como uma mesa precisa de seus apoios. Deixe então que a tua vida seja uma sala de visitas. Não me refiro a uma praça pública. Mas deixe o teu caminho ter halls de entrada, sirva um café ao inquilino e, quando bater o tédio e a vontade de dar mais uns passos, deixe aberta a porta dos fundos para que se encaminhem os indesejados. Não ande em corredores, pois eles são uma linha de estreitas paredes. Não vês a luz, nem os rostos alheios nesses caminhos sem bifurcações tentadoras. Queira as portas e as janelas. Pois eu repito: nunca estás sozinho. E quando bater o desespero, a sensação de insegurança, solidão repentina e a leve impressão de que só sobrou você na eterna brincadeira-de-nós-todos, eu quero que se lembre da borboletinha que vive apenas dois meses e, apesar disso, a sua viagem anual dos EUA até o México termina com sucesso. Sabe como?

Este vôo épico envolve nada menos do que 4 gerações de borboletas.

Nunca estás sozinho.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

O tal do fim do dia.

Eu entrei no carro, direcionei o ar pra mim. Disse um "oi" arrastado e cansado. Enquanto ela dirigia, eu fechava os olhos, ainda colocando o cinto e tirando a mochila do colo.
O dia começou em comum na mesa do café. Depois sempre nos separamos numa bifurcação por demais contrastante. E no fim, estávamos ali. Cada uma com seu dia nas costas, mas com o final em comum.
O estresse estragava qualquer início de diálogo.
Eu tocava as pálpebras com os dedos gelados. Tentando me tranquilizar.
Ela acelerava nas ruas já sem movimento; a cidade toda recolhera seus pesados dias e foram desmaiar na cama.
No rádio, uma voz que anunciava o convidado da noite na MPB.

"Olha, você não faz ideia do que passei no meu dia hoje." - disse ela.
Eu retrucava, entrando na inútil e boba disputa de quem tem o maior cansaço.
Finalmente, quando o silêncio chegou e a casa estava próxima, olhei e vi como ela era linda. Ela ia chegar em casa, colocar um sorriso falso no rosto e receber as visitas que aguardavam pro jantar. Que coisa tola essa de postura social. Seria tão mais legal entrar e falar " saiam todos. comam em outro lugar porque só quero tirar essa roupa e amar minha casa como nunca".
Eu desejei poder falar isso por ela.

Mãe tem dessas coisas. Vivemos num 8 ou 80, preto ou branco, bipolaridade semanal, fins de semana alegres e segundas-feiras cinzas, abraços, gelos, manha, bom dia, boa noite, vem comer, vai dormir, vai sair? vai voltar?.

E no fim gostamos. Porque olho pra ela às vezes, e alguma coisa boa invade o peito. Me dizendo que não há coisa mais certa. Coisa mais minha. Coisa mais rara.

domingo, 24 de outubro de 2010

Não serei escritora dos amores passados.
Não direi o que penso, porque as palavras saem cortanto. Elas cobram pedágio para estar aqui.
Queria conseguir transmitir a você, leitor, o que sinto agora. Ou melhor, o que não sinto. Estou numa estranha insensibilidade. E, o que é mais estranho ainda, pareço estar em uma aguda felicidade.
Sinto que consegui recuperar todas as partes de mim. Pois eu estava dividida. E agora estou egoísta. Mas posso, não posso?
Me dói quando a cabeça pede pra pôr em palavras os acidentes do coração. É tarefa árdua. Requer força. E muito controle. Sangue frio também. Pra não se assustar quando a palavra (mesmo escrita por minhas próprias mãos) me revela algo que nem eu mesma sabia que guardava em mim. Angustiada. São pequenos golpes quando a escrita toma vida própria e faz das minhas dores um filme pra mim mesma. Como uma desgastante e aterrorizante palestra de 'como aprender com suas quedas e, depois, arriscar cair de novo'.

Tudo isso me consome. Martiriza às vezes.
Mas me preocupa muito mais agora a estranha neutralidade que estou vivendo. Me tenho toda pra mim agora. Estou fria. Mas feliz. Isso é ruim? É que sinal?
Sinto os pés pisarem o chão, um pouco trêmulos, como se eu tivesse voado esse tempo todo. E, agora, tivesse que reaprender a andar um pouquinho.
Hoje, não vou tomar a dose de frescura pra escrever o coração aqui.
Pra escrever os rostos que atordoam minha cabeça.
Pra escrever as saudades que atordoam meus olhos e garganta.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Antes de dormir

Escrevi um texto aqui um dia que se chama "A cara da saudade". Sorri pra ele. Li mil vezes. Olhei o resultado como se só depois do esforço de escrita pudéssemos apreciar as letrinhas. Que nem uma montanha: na hora de escalar é só pedra ou gelo, tem nem sentido pensar no esforço porque senão você desistiria de só olhar cinza, branco, altura pra baixo, caminho pra cima. Mas lá em cima, a paisagem é só sua. Só sua.

Desculpe o fluxo da consciência, não era sobre isso que queria falar.
É que no fim do texto sobre a cara da saudade, ela continuou sem mostrar sua face. Fui saber disso ontem e não podia deixar você desatualizado. Meu Deus. O que é saudade? Dorzinha aguda na garganta/pescoço/peito. Mas não seria pior se não sentíssemos? Então é dor prazerosa? Masoquismo comunitário da Associação dos Possuidores de Coração do Planeta? É o que? Eu tentei falar. Tentei organizar. Tentei fechar os olhos e deixar sair só o que sentia. Senti que domei o sentimento! (irônico que até para sentir essa "superioridade" com relação ao sentimento precisamos deixá-lo nos invadir, ou seja, precisamos sentir. e só).

Parabéns pra você saudade. Nós passamos a vida tentando te matar. Mas você tem 7 delas. E nós só temos uma. "Quando olhar pra ele, vou matar minha saudade!" . Aguarde algum tempo, pra vê-la brincar no túmulo que insistimos lacrar! Matamos nada. Nós é que morremos um pouco. E o pior, é que gostamos. Sim, gostamos porque a facada da saudade dá frio na barriga, lágrima nos olhos, confusão na cabeça...mas no fim...continue explorando o turbilhão de sensações...e lá no fim, pulando pra ser vista no mar das emoções doloridas, está ela.
Sim, a estrela.
A razão de tudo.
A atração principal...
Ela: a sensação de viver intensamente.


Parabéns saudade pela sua esperteza. Vamos continuar lutando com você. Pois o homem tem dessa mania de achar que tudo pode. E sim, venha matar mais corações...

Porque nessa vida tão contraditória,
morrer de saudade
é ter vivido o amor.

Ter vivido o amor,
é ter vivido o...
a...

é ter vivido.

sábado, 16 de outubro de 2010

Para um sorriso de ressaca

Ontem era o cansaço de rotina.
Foi só você chegar, com esse teu sorriso pra tirar o meu de casa.
É ressaca além dos olhos. Os teus olhos riem junto. Mas o golpe é do sorriso.
Chega já chutando a porta.
Sabendo que em mim ele tem lugar de rei.

Ah, esse teu sorriso!
não sabe a força que ele tem...

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Fila

Veja bem, conversei com a consciência para lhe perguntar por que brinca tanto comigo, embaralhando tudo quando mais preciso dela. Ela disse que me explicaria, se eu parasse por um tempo de torturá-la com as dores do coração e seus gritos de frescura (ele fica assim quando alguns poucos conseguem cortá-lo ao meio). Reconhecendo sua razão de pedir paz, eu dei um suspiro aliviada e respondi:

- Eu vou te dar a paz que você tanto pede há meses, e merece. Já estais desatualizada e trago pra ti as últimas notícias da merda do amor, minha cara! Depois de muito tentar, pisar em falso e essas coisas que fazemos nos momentos de cegueira afrodisíaca, eu hoje convivo com a indiferença daquele lado de lá. Então, meu bem, agora é só o tempo pra curar todo o estrago e eu te poupo de lidar com a indiferença. Deixa o tempo cuidar, deixa ele passar...eu que já tanto quis que ele parasse em alguns momentos.

Ela (a consciência, é com ela que estou falando), então, parou perplexa...talvez se sentindo um pouco injusta de ter reclamado tanto, achando que só ela sofria. Somos duas, meu amor. Então, para que fizéssemos as pazes, ela me deu a resposta que eu queria:

-Brinco com teus pensamentos porque você mal sabe como eles são cuspidos pros teus textos. Eles fazem uma fila. Os mais claros, maduros e consistentes ficam na frente. Cheios de coragem para pularem logo. Mas tem dias que você resolve pegar um lá atrás, no setor dos nebulosos, perigosos, difusos e complexos, quebrando a ordem. Você faz isso quando escuta mais o coração do que a cabeça. Aí vem, ceguinha, bagunçar a minha ordem. Lembre-se de que quanto mais profundo o que você tenta catar em si, mais difícil será colocar em letras.

Saímos de mãos dadas, decretando nossas tão merecidas férias.


(Ps.: Está virando um hábito personificar as partes de mim. Prefiro enxergar isso como um traço de escrita, e não considerar que tem dias que elas tomam vida própria.)

domingo, 10 de outubro de 2010

Com você, os pedaços de mim

Você já teve a sensação de não poder ter algo que muito quer? Eu não falo de fracasso, muito menos de incapacidade. Hoje piso nessas palavras como já pisaram um dia em mim. Mas, deixe-me explicar o que martela a minha cabeça há alguns dias.
Apelo para o brega pois hoje estou com dificuldades de me expressar. Quando criança, eu gostava de montar quebra-cabeças. Cada vez maiores, 500 peças, requeriam um tempo enorme que testava minha paciência sempre curta. Então, quando já estava cansada, eu pegava uma peça muito parecida com o espaço que queria preencher da figura e tentava encaixar. Não era ali, mas eu virava, desvirava e pressionava a peça em vão, claramente percebendo que insistia no erro, ignorando que caíra numa extrema semelhança, mas ainda não no ponto certo. Desistia então, deixando de lado a peça amassada. Ficava um tempo olhando o resto do jogo. Engraçado como nessa hora era bom contemplar o que já havia sido feito. Eu descansava fitando meu trabalho (porque pra mim era uma obra dos deuses) e logo me dispunha a catar pecinhas certas no mar que ainda faltava pra completar a imagem. Esquecia a atitude boba de 5 minutos atrás e o jogo voltava a me entreter, botando fim na raiva e fazendo as pazes comigo. Enfim, peça errada não encaixa não importa o quanto tente, o quanto se esforce. Porque o motivo do não-encaixe não é a tua falta de perseverança ou a tua incapacidade de realizar aquilo. O motivo do não-encaixe é da natureza da coisa em si, é do formato do que você tenta manipular, sem aceitar que aquilo, simplesmente, não foi feito pra estar ali.

Eu hoje, então, me refiro a peças vivas. Sabe qual é a diferença? A coisa não pode ser sua não pela natureza própria ou pela forma como foi "fabricada". Mas sim porque peça viva, meu amigo, é possuidora de liberdade. E como tal, decide o que bem quer. É claro que tem vezes que você cai inesperadamente onde não escolheu. Pode ser bom ou ruim, pode ser no amor, ou na sorte. Mas cabe a você, sempre (sempre), resistir ou não a isso. Sair correndo ou não. A pecinha viva que você tanto quer colocar em um lugar (que parece ser tão certo na sua vida) decide se quer ir ou não. Ela ouve (ou não) os teus anseios, tua vontade e pega a parte das regras que você não alcança e decreta fim ou vida àquilo que está em jogo.

E aí, o que se faz é entender uma coisa que ontem veio bater na minha cabeça. Entender que é preciso valorizar o esforço, a vontade e até aqueles mergulhos de cabeça que a vida te convida a dar de vez em quando. Mas, lembrar também que uma parte ínfima dessa sede boa de tentar matar simplesmente não depende de você. No início é difícil aceitar. Dá vontade de tentar encaixar peça a todo custo. Aprisioná-la e gritar com toda força um quemmandaaquisoueu. Mostrar em luzes neon o tamanho da tua vontade e o desgaste do teu esforço.
Mas no fim, você para. Respira. Olha o suor. Ouve um risinho da peça que você tanto correu atrás. Então, devolve um sorriso cansado. Permita que seja orgulhoso também!
Aí, um dia desses, eu vivi um daqueles dias meus de criança socando a peça do quebra-cabeça no lugar que eu queria, com a garganta já salgada de choro. Então, subi as escadas de um lugar que pouco visito em mim. Onde eu posso assistir minha vida do alto de um mirante, e dar aquele sorriso sereno ao ver a parte da imagem que já está completa. Porque não dá pra ver do lugar onde acontece minha rotina. Eu aplaudi como os cariocas que aplaudem o pôr-do-sol. Larguei, lá de cima, a peça que tanto insisti pra ser minha. Ela não caiu pra fora da vida. Caiu no mar das que faltavam. E sabe? Ela, que um dia já foi tão especial, pareceu tão igual às outras ali no meio! Logo perdi de vista meu amuleto. Sentei, lá no alto, pra olhar um pouquinho as partes de mim lá embaixo. Inspirando cada dose boa de vento. Sentindo sol laranja de fim de tarde clareando a íris castanha. Sentindo também que o jogo, depois de tanto tempo, voltava a me entreter. Vontade de saber se a peça seguinte é do meu domínio. Ou se, de novo, vai me desafiar a convencê-la a ficar mais um pouco. Pra mais um café na minha sala. Eu deixo ela correr se quiser. Entrego a chave da algema. Ou abraço com toda força se ela aceitar o meu convite.

Coisa boa é acessar a visão panorâmica de emergência da vida (porque o bom é a surpresa, sem poder olhar o todo lá de cima). Coisa boa é sentir a leveza de, de novo, ir buscar o encaixe perfeito entre os pedaços de mim.


terça-feira, 5 de outubro de 2010

Anti-amor urbano

Quando buscam inspiração
Os que amam com vertigem
Inspiram poluição
Comem os pretos da fuligem

Quando buscam ter calor
Na agonia carnal
Derretem vivos no ardor
Do aquecimento global

E se acaso mergulham
Na mais linda declaração
Não é com caneta de pele
No papel-areia do chão

Escolhem o mais limpo cimento
E cospem tinta e borrão
Pintando a cidade-tormento
Com a não-voz do coração

Assim a vida que queria
Viver mais a cada ano
Morre um pouco a cada dia
Neste desamor urbano!

domingo, 3 de outubro de 2010

Choque

Eu sempre gostei da escrita como forma de expressão. Lá na primeira ideia desse meu espaço eu já a colocava em um pedestal, enaltecendo-a. Mas, sabia que brigamos outro dia? Eu disse a ela pra parar com mistérios e linhas ambíguas porque minha dor está forte e precisa decifrar o que leio daquele outro coração. Fui veemente, cheguei a gritar (porque a confusão faz isso com a gente). E acrescentei que ela era minha melhor amiga, já que a fala sempre me traía, mas que ultimamente estava me dando cada golpe no peito, entrando em cada contradição! Parei de falar, respirei aliviada, o rosto afogueado, o sangue pulsando quente (talvez se chame desespero), certa de que havia sido clara. Ela (a escrita), então, levantou serena, em  um quarto com mistura de cinema e New York, olhou pra mim, sábia, e disse como quem joga uma bomba: " Não há mistério nas palavras transparentes que lhe apresento. Não há abstração, rebuscamento, devaneios nem rodeios. Há apenas o teu coração querendo enxergar o que já não existe, fazendo teus olhos trocarem as frases."

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Para o meu leitor assíduo

É, você. Do cabelo bagunçado, dos comprimidos, da matemática e da música. Você vem, lê, conversa e ri. Riso de quem achou engraçada a explosão de raiva, interessante o desabafo, bem escrito o amor em letras e confuso quando o texto não é meu, mas do coração que se manifesta. E como se manifesta. Você nota, fala e se cala. Pergunta, espera e ganha uma resposta que parece pelo avesso, torcida, esquisita. Mas sincera. De quem nem sabe (não quer) o significado. É que o coração ousou demais esse ano. Cansou minha cabeça. Cansou as minhas pernas. Cansou minhas mãos em um teclado de gritos. E como gritei. Gritei pra mim e pra tela. Pro meu quarto também. E quando saía, pra minha rotina lá fora, pegava um sorriso na bolsa, uma capa de proteção por saber do dia difícil que se inicia, e ia pra base onde minha rotina e a sua se esbarram. Onde os caminhos são iguais. Nessa interseção mostramos as cartas do dia. Eu apresento o cansaço. Você a disciplina. Depois vem você mostrando queda. E eu, orgulhosa, com a placa do incentivo, que tem efêmeras horas nas minhas mãos. Porque oscila tudo. Oscila um bem-estar que anda do lado da angústia. Esta, por sua vez, de mãos dadas com um sono de matar, que é destruído pelo riso bobo dos assuntos inúteis e corriqueiros.

Enfim, meu crítico, logo acaba esse sonhadelo. Logo passa e eu, só pra constar, se pudesse te desejar só uma coisa, não seria a grosseria de cada dia e nem as frases sem sentido. Eu te desejaria "altura". Sim, altura. Estranho. Mas é. Porque lá na frente deve ter uma coisa boa. E que seja sucesso em qualquer caminho que aparecer pra você andar. E você, que diz não entender muito do que escrevo, espero que veja tua cara aqui desenhada. E quanto a mim, fico bem com minhas linhas de confusão que cada vez mais viram clareza, alívio.

Mário Quintana foi quem disse: " Se alguém te perguntar o que quiseste dizer com um poema, pergunta-lhe o que Deus quis dizer com este mundo" .

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Beija-flor novo

Então, deixa eu explicar.

Tinha uma luz. Veio do nada. Aí crescia. Todo dia, todo dia.
Em um dia desses todos, a luz começou a ofuscar. Era linda. Mudava de cor!
Então, eu vi que tinha ficado cega. Não pra luz. Pra todas as coisas em volta.
Sim, cegueira seletiva. Tudo sumiu. Menos a luz.
Aí, a cegueira não me incomodava. Pelo contrário. Me fazia sorrir. Igualzinho pintura moderna. Tem um bando de tinta, um risco lá, um risco cá, um buraco negro, uma flor no canto, uma assinatura em garranchos, e a tua dúvida do que aquilo significa. Sabe o que vem depois? O sorriso! Não entende nada, mas sorri. Um sorriso arrancado. Que sai pra você fazer as pazes com a obra.
Sim, voltando. Eu seguia a luz porque além dela tinha uma voz. É, uma voz que ganhou minha confiança num segundo.  Então agora temos: a luz, a cegueira e a voz. Eu só seguia. E só sorria. Doses mais fortes eu fui precisando. E sabe o que o proprietário da luz fez? Um dia resolveu apagar. Como se fosse um " você não pagou a conta". Só sei que desde esse dia até hoje, eu só recuperei a visão do olho direito. O esquerdo tá voltando, mas ainda é complicado.
Até hoje me pergunto que diabos ocorreu.

Mas que vazio que dá de não tê-la mais por perto. Pego a mochila, meu orgulho e a garrafa d'água. Hoje sou eu que apago luzes. Hoje sou eu que aprendi a calcular a cota. Por fim, quando menos espero, me aparece um jardim. E eu começo a sentir vontade de seguir o beija-flor. É luz disfarçada? É voz enganosa? É não, é vida, é dia, som, cheiro, cor, é certo.
Eu quero que a luz e tudo mais vá pro inferno.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Pulso

Descobri que tenho coração quando comecei a escrever.
"Que nada! " você dirá.
Mas veja bem, o mundo de quando em vez confunde coração com máquina ou saco de pancadas. Isso me traz crise de identidade cardíaca (sim, anote aí).
Então, olhe que maravilha são as palavras. Vão puxando sua angústia lá de dentro e estampando no papel, na tela, na parede, na mão. Enquanto o mundo entope as artérias, as palavras vão drenando. Saem fortes, corajosas (às vezes autônomas demais) e pulsantes. Esclarecem a confusão, aliviam a dor entalada, que a voz já desistiu de explicar.

Elas pulsam!


Li   teratura
Meta   linguagem
An      gústia
Fe      licidade
Me     do
Es      curo
Sau    dade
Lub    Dub


Sístole    Diástole.

sábado, 18 de setembro de 2010

Entreouvido

De madrugada, um pouco antes do sono, naquela hora em que os pensamentos tomam a cabeça no silêncio da casa dormida. Ela toma um susto com o celular. Ele já estava se preparando há horas.

Ele: - Eu cansei de esperar. Tentei falar, tentei mudar tua cabeça, tua impaciência por mísera coisa. Mas você não me deixou mover um dedo sequer. Então, preciso ir embora, pra começar a acordar.

Ela: - Eu entendo. Isso não me agrada muito. Mas entendo.

- Não precisava ser assim. Desaparecer. Dá pra deletar gente?
- Não precisa. Tem como consertar as coisas.
- Eu acabo de desistir de te entender. Ficou no silêncio repentino, enquanto eu tentava te trazer de volta. Então quando finalmente entendo o recado e resolvo tentar esquecer, você vem com um discurso diferente. Escolha! Ou você é toda ódio, ou você é toda amor!
- Digamos que eu esteja lá no meio. Naquele estágio em que a cabeça se afasta. E o coração teima a ficar.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Rio de Janeiro, fevereiro e março

Outro dia me perguntaram: "o que levaria se tivesse que ir?". Eu parei, pensei. A parte do pensar demorou 3 segundos, como uma boa carioca. A parte do parar me tomou um certo tempo que nem sei dimensionar por causa do frio que deu na barriga.
Eu mexi o café, tomei um gole. Puxei o ar e, com ele, as palavras embaralhadas que já estavam me tampando a vista, de tão óbvias e numerosas que eram, doidas para responderem sozinhas.
Eu disse a ele (ao autor da pergunta-bomba) que levaria umas coisinhas. "Um Cristo Redentor...uma Baía de Guanabara pra chegar em grande estilo. O futebol de noite na praia, a bicicleta e o vento no rosto de uma Lagoa Rodrigo de Freitas. Todo o charme do Leblon, um pôr-do-sol de Ipanema. Uma pedra do Arpoador. A alegria e o samba da Lapa. Um gol do Maracanã. Umas vozes do Baixo Gávea e uns encontros num bar de rua em Botafogo. A grandiosidade e a cultura do Centro e aquele dia que olhei pra você e ri com o bondinho passando nos seus óculos escuros. Levaria a tranquilidade do Jardim Botânico e até esta cena que agora observo do posto 6 de Copacabana, enquanto meus olhos fotografam a princesinha do mar. Levo esses itens pra montar um cenário no meu quarto. Faço questão de marcar o meu caminho ao andar por lá. E se não for pelo estilo que me falta, que seja pelo jeito de falar. Caraíba, Parioca, seja lá o que tiver de ser, escolho ir pela metade. Se a vida assim quiser, terá que aceitar o meu acordo. Metade vai, metade fica. Porque muda a rotina e o diploma da faculdade, mas o amor, meu amigo, você lava, esfrega, arranha e não sai a tatuagem. O sol nasce primeiro lá, mas sempre tive a sensação de que brilha mais forte aqui. "

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Nota II

Como eu sempre digo, escrever é um exercício da mente; transbordamento de criatividade.
Passeando por blogs alheios e fazendo a visita assídua aos textos de uma amiga, resolvo clicar em mais um blog que vi no painel de comentários dessa minha amiga.
Qual não foi minha surpresa quando RECONHECI MINHAS FRASES nadando na última postagem da escritora em questão. Não gosto de plágio. Vou chamar de inspiração (ou criatividade nossa de cada dia).
Tudo bem, eu devo ser boa nisso. A partir de hoje, vendo frases, dois reais. Se quiser comprar a idéia matriz, é um pouquinho mais caro. Preços a combinar.


- Homenagem a " IMAGENS LITERÁRIAS". Não vou postar o link, é um desrespeito (oi?).
A literatura é sempre uma caixinha de surpresas! -

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Nota

Hoje eu parei de ser você, de ver o mundo nos seus olhos e de rir com seu sorriso. A chave não está mais debaixo do tapete nem no vaso de flores do hall. Levei comigo aquele chocolate, as fotos da viagem de Janeiro, aquele casaco que você gostava de usar em noite gelada, a garrafa de vinho daquele dia (lembra?) e aquele frasco de perfume que entornamos a metade na pressa pra pegar o início do filme. Procurei seu coração pra deixar no seu quarto mas não achei (você já deve ter guardado).
No mais, estou indo embora.

domingo, 5 de setembro de 2010

Função fática morta

Tem dias que desejo desaprender a falar. Só pra não ficar abrindo canais que eu já deveria ter abandonado. Comunicação é, ao mesmo tempo, uma dádiva e uma praga. Esses dias minha fala resolveu pegar o controle do meu (bom) senso e desconfigurar. "Fique quieta porque 80% das coisas que você ainda pensa em dizer já estão enterradas. Segura a vontade de dar uns passinhos pra trás e olha quanto progresso já veio. Cada vez que você ressuscita a palavra, o lado oposto ganha cem pontos. Deixa morrer esse canal velho. E se concentre naquele novo que você abriu há pouco tempo, no qual cada palavra é uma dose de renovação. "

Você não entendeu nada, eu penso.

domingo, 29 de agosto de 2010

O que não consigo te falar cara a cara

Não, você não faz ideia. Não tem e nunca terá a mínima noção de como está sendo importante pra mim. Eu estava prestes a cair, apoiada em um único dedo, já assustada com a altura que meus olhos observavam aflitos e o corpo (coitado) colhendo os cacos daquilo que meu coração resolveu aprontar há algum tempo. Geralmente ele é bem quieto, nunca tem vontade de correr atrás de nada, comportado, estável. Outro dia ele me disse que se dava bem com você. Outro dia meu sorriso me falou também que há muito não sentia tanta vontade de sair de casa como ultimamente. Os meus olhos te agradecem pelo resgate do afogamento (foi por pouco). E eu, pegando a parte que controlo de mim, te digo que você acertou. Acertou a hora de vir e me dizer que segurava se eu caísse. E segurou. Eu sei que a rotina é cansativa, e que às vezes eu passo muito tempo na realidade e me esqueço daquelas viagenzinhas nos meus pensamentos, e em você. Mas o sol tem aparecido. E eu levanto um pouco mais a cada dia.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

A cara da saudade

Dá pra ver a saudade sim. Não em forma de pessoa. É o corpo que te mostra. É como um trajeto sem saída.
Começa lá na cabeça, com os filminhos do cérebro. Tela de inquietudes passadas, transmitindo em cores a cara da saudade. Depois desce pros olhos. Primeiro vem vermelha, em forma de veiazinhas pulsantes que mais parecem pequenos rios das águas das tuas lembranças. Quando os rios transbordam, a saudade não sai vermelha não. Sai transparente. Tendo a fineza de se apresentar em cor pura, cristalina, inocente...o mais constrastante possível com os efeitos que causa. Continuando seu caminho, a saudade vem  brincar com a boca, causando a vontade de falar palavras que você nunca encontra. Ou de gritar pra quem não pode te ouvir. Ou de beijar os lábios de quem botava sorriso nos seus. Depois atinge a garganta, formando um nó. Sim, um nó que dói de tão apertado. Um nó salgado, que você não sabe se é na garganta ou no peito. Que diferença faz? O próximo passo é mesmo o coração! E quanto a este, me dê o direito de pular. Você bem sabe que o coração é alvo fácil, núcleo daquela dor que você tanto quer arrancar. Não se preocupe, são só uns machucados até a saudade descer pros braços e mãos, te dando a vontade de escrever, de discar, de ajudar a disfarçar a inundação dos riozinhos lá de cima. Não satisfeita, ela te faz querer abraços que não vão voltar nunca mais. Por último, é a vez das pernas. Vem a vontade de correr. Às vezes correr pra longe. Pra fora. Pro nada. Ou correr atrás de quem causou essa inquietude toda.

Ah, saudade. Faz a curva e volta fortalecida (mais?), pra mais uma viagem rasgando a alma de quem procura paz!

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

O poeta e a tinta

O poeta pegou a pena, sentou-se na grande poltrona junto à lareira e pôs-se a encarar o papel branco que tinha no colo. Poderia passar a noite toda escrevendo o turbilhão de idéias que tinha em mente. Eram lembranças, fatos do dia e um punhado de sonhos que cismava em atribuir um significado especial. Antes de tudo, sabia que não poderia demorar muito em sua reflexão, pois assim os ecos da cabeça abafariam a voz do coração. Molhou, então, o fiel escriba de sua alma (que parecia ter vida própria quando ele começava a escrever) e, assim que aproximou o objeto do papel, uma gorda gota azul tomou sua frente e, com toda a imponência, caiu vagarosa e elegantemente na imensa superfície branca que parecia não lhe amedrontar com suas dimensões vertiginosas, tamanha era a ousadia daquele ato. O poeta observou cada segundo da corajosa gotinha sendo absorvida pela folha, espalhando-se agoniada nos seus últimos momentos de vida; naquele seu territoriozinho azul do qual se orgulharia caso pudesse ver o resultado de sua façanha.
O rapaz parou um instante para ouvir o que uma daquelas vozes apaixonadas que moravam dentro dele estava dizendo. Dizia que aquela gota de tinta parecia com ele quando foi tomado de amor por ela (aquela moça que ele viu passar duas vezes em toda a sua vida). Naquele dia que ele arriscou pôr o pé no mar de encantos que transbordava dela, e acabou mergulhando por inteiro, sem que nada pudesse fazer para se livrar daquela folha de papel.
Por fim, lembrou-se que agora morria de amor. Morria de saudade. Morria com sua condição de poeta apaixonado, que nunca aprenderia a se defender de uma onda de sentimentos. Em sua vida, ele sempre nadava contra a maré, alcançando um bocado de areia de quando em vez, mas logo arrastado para o fundo novamente.

Pegou, então, a pena que tinha em mãos, mergulhou-a com vontade no vidro de tinta e salpicou milhões de gotas na folha que o desafiara. Em seguida, subiu as escadas e foi se deitar. Certo de que aquela era a poesia do dia. Certo de que seu coração muitas vezes tomava as rédeas de suas obras e o intrigava com aquele mistério sempre silencioso. E quanto a isso, nada podia fazer. Porque se tinha uma coisa que não possuía naquele momento era a tal da razão que perdera por ela. Parecendo uma gotinha de tinta dessas que caem no papel e se afogam na própria aventura, parecendo pular ao encontro do sofrimento. Parecendo saber, acima de tudo, que o destino do fogo é a água, do branco é a tinta, do riso é o pranto, da voz o silêncio e o seu, o amor.

sábado, 14 de agosto de 2010

Da segurança máxima que inventou pra si.

Ele chegou aflito no local onde haviam combinado. Acabara de sair da faculdade e não fazia ideia do que ela tinha pra falar.

Ele: - Tentei te ligar pra avisar do trânsito.

Ela: -Tudo bem, não esperei muito...

- O que houve? Tanto mistério seu.
- Mistério?
- É, parece meio nervosa.
- Sim, estou.
- Algo que eu possa fazer? Você não é assim normalmente.
- É que ontem decidi ir embora.
- Como assim?
- É, sumir.
- É algum tipo de brincadeira?
- Não, não é. Sei que parece estranho, mas é isso.
- Você não gosta mais de mim?
- Não se trata disso. Tudo que falei foi verdade. Você foi a melhor coisa que podia me acontecer. Te amei com uma intensidade que eu nunca tinha visto.
- Então o que eu fiz de errado?
- Não foi você. Mas todas as coisas que te impediam de ter mais tempo. Eu sei, eu sei. Eu disse que estaria com você não importa o que acontecesse. Mas, não quero lidar mais com isso.
- Você não tinha um modo melhor pra me fazer entender isso? Simplesmente ficou a pessoa mais estranha do mundo essa semana, me tratando como se eu não fosse mais tão importante. Até que marcou de nos encontrarmos aqui nessa praia, à noite, pra jogar essa bomba?
- Eu sei. Desculpa por tudo.
- Você entende a minha dor?
- Entendo. Eu também senti bastante. Não foi fácil esquecer tudo.
- ESQUECER?
- Simplesmente me conformei que agora não vai dar. Nossos ritmos são diferentes. Eu não quero abrir mão da minha vida.
- Por que eu te pediria pra "abrir mão da sua vida" ?
- Você entendeu.
- Na verdade, não.
- Desculpa mesmo. Odeio te fazer mal.
- Olha, você querer ir embora, ou não gostar mais de mim é até mais fácil de entender. A única coisa que me deixa realmente triste é você ter escolhido uma forma traumática.
- É, eu sei...
- Engraçado você ter a consciência disso. E mesmo assim continuou agindo da pior maneira possível.

( Silêncio)

Ele: - Não sei dizer a sensação de agora. O meu amor cresceu tão rápido. Parei de duvidar e estive entregue a você. Confiei com toda a força que você me fez ter. Foi como pisar no escuro, como não costumo fazer. Eu, sempre relutante. Sempre cheio de mim. Duvidando das coisas, das pessoas. Vi em você uma chance de tirar os pés do chão de vez. O que aconteceu com a gente e com a surpresa boa, só nossa ?

Ela: - Não espero que entenda. Mas você sabe. O primeiro "eu te amo" é sempre o que mais vale. Quanto mais amor, menos amor.


Levantou-se, e foi embora. Fingindo levar também o coração. Fingindo sair no tapete vermelho. E ele, comparando sua tristeza com o mar ali na frente. Mas ela foi mais forte, nem sequer olhou pra trás.

domingo, 8 de agosto de 2010

Desfibrilador

Eu quero ir com tudo pro final desse ano que mais parece uma década. Levantar e dar a arrancada que estava esperando, deixar o mais triunfante pro ato final. Voltar a me reconhecer com toda a vontade que alguém pode ter dentro de si. Muita queda já aconteceu. Aconteceu também vontade de largar tudo. Muita queda foi culpa minha, culpa da fraqueza que não trabalhei pra ir embora logo. Mas pouco da queda foi também dos outros; alguns que me puxaram pro ponto de partida quando eu já me sentia na chance de ganhar. Não há coisa melhor do que sentir a energia retomar os batimentos cardíacos quando já se tinha decretado morte. Não há coisa melhor do que ver a ferida se curando quando você já tinha se conformado em seguir mancando, cansada, se arrastando. Eu quero ver onde o caminho vai dar. Onde o caminho que eu mesma fiz pra mim vai dar. A vida tá pedindo, gritando alto pra voltar com toda a plenitude que ela merece. Eu seguro, peço calma ( mais?). Eu escrevo aqui com a vontade de gritar. Gritar na cara de alguns que me fizeram recuar. E gritar pra mim mesma de alívio. Escrever é catarse também. Catarse de extravasamento. Lembro-me do estilo da Geração Ultra-romântica, onde pra ler um poema daqueles é melhor subir na cadeira e gritar os versos com toda a força que tiver no peito para, assim, tentar captar 10% que seja da emoção que esconderam nas letras.
Eu quis correr com o corpo mais rápido do que a alma podia acompanhar. Parei, deixei ela me alcançar. Sentir-se em casa novamente e tomar as rédeas de mim.
Depois de muito tapa, eu quero andar com pernas próprias novamente.
Quero sentir de novo o que reprimi durante esse tempo. Deixar as coisas virem como há de ser. Já dá pra enxergar um pouquinho do fim. Tem cara de luz. Se, mais perto, tiver cara de escuro, eu quero poder ser mais forte que isso.
" Mas pense no agora! Não sentes a repiração voltar ao ritmo? A cicatrização dar sinais de avanço? O sorriso inesperado brincar nos lábios de novo? "

Segura. Falta pouco.

domingo, 1 de agosto de 2010

Torcida da sua vida

Mesmo antes de nascer, já tinha alguém torcendo por você. Tinha gente que torcia para você ser menino. Outros torciam para você ser menina. Torciam para você puxar a beleza da mãe, o bom humor do pai. Estavam torcendo para você nascer perfeito. Daí continuaram torcendo... Torceram pelo seu primeiro sorriso, pela primeira palavra , pelo primeiro passo. O seu primeiro dia de escola foi a maior torcida. E o primeiro gol, então? E, de tanto torcerem por você, você aprendeu a torcer. Começou a torcer para ganhar muitos presentes e flagrar Papai Noel. Torcia o nariz para o quiabo e a escarola. Mas torcia por hambúrguer e refrigerante. Começou a torcer até para um time. Provavelmente, nesse dia, você descobriu que tem gente que torce diferente de você. Seus pais torciam para você comer de boca fechada, tomar banho, escovar os dentes, estudar inglês e piano. Eles só estavam torcendo para você ser uma pessoa bacana. Seus amigos torciam para você usar brinco, cabular aula, falar palavrão. Eles também estavam torcendo para você ser bacana. Nessas horas, você só torcia para não ter nascido. E por não saber pelo que você torcia, torcia torcido. Torceu para seus irmãos se ferrarem, torceu para o mundo explodir. E quando os hormônios começaram a torcer, torceu pelo primeiro beijo, pelo primeiro amasso. Depois começou a torcer pela sua liberdade. Torcia para viajar com a turma, ficar até tarde na rua. Sua mãe só torcia para você chegar vivo em casa. Passou a torcer o nariz para as roupas da sua irmã, para as idéias dos professores e para qualquer opinião dos seus pais. Todo mundo queria era torcer o seu pescoço. Foi quando até você começou a torcer pelo seu futuro. Torceu para ser médico, músico, advogado... Na dúvida, torceu para ser físico nuclear ou jogador de futebol. Seus pais torciam para passar logo essa fase. No dia do vestibular, uma grande torcida se formou. Pais, avós, vizinhos, namoradas e todos os santos torceram por você. Na faculdade, então, era torcida pra todo lado. Para a direita, esquerda, contra a corrupção, a fome na Albânia e o preço da coxinha na cantina. E, de torcida em torcida, um dia teve um torcicolo de tanto olhar para 'ela'...
Primeiro, torceu para ela não ter outro. Torceu para ela não te achar muito baixo, muito alto, muito gordo, muito magro. Descobriu que ela torcia igual a você. E de repente vocês estavam torcendo para não acordar desse sonho. Torceram para ganhar a geladeira, o microondas e a grana para a viagem de lua-de-mel. E, daí pra frente, você entendeu que a vida é uma grande torcida. Porque, mesmo antes do seu filho nascer, já tinha muita gente torcendo por ele. Mesmo com toda essa torcida, pode ser que você ainda não tenha conquistado algumas coisas. Mas muita gente ainda torce por você.

Carlos Drummond de Andrade

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Elo Imaginário

Noite. Avião. Pista. Esteira. Mala. Táxi. (Cansaço). (Saudade). (Ansiedade). Rua. Prédio. Elevador. Chave. Porta. Suspiro. Aconchego. Abraço. Sorriso. Choro. Beijo. Conversa. Beijo. Conversa. Beijo. Susto. Camisa. Marca. Batom. Perfume. Olhar. Lágrima. Raiva. Pergunta. Silêncio. Negação. Grito. Pergunta II. Negação. Desespero. Pergunta III. Explicação. Choro. Tapa. Empurrão. Choro. Silêncio.Tapa. Grito. Despedida. Porta. Silêncio. Sapato. Passo I. Passo II. Parada. Olhar. Tristeza. Cabeça baixa. Passo III. Tentativa. Desculpa. Negação. Decepção. Desespero. Passo IV. Joelho. Chão. Pedido. DesesperoCostas. De pé. Hall. Porta. BLAM. Coração. Cacos. Elevador. Térreo. Rua. Noite. Choro. Arrependimento. Bar. Álcool. Álcool II. Álcool III. Desequilíbrio. Rua. Praia. Areia. Desequilíbrio. Passos. Queda. De pé. Passos. Mar. Passos. Fundo. Escuro. Fundo. Ar. Tontura. Inspiração. Água. Superfície. Corpo. Horas. Corpo. Areia. Tristeza. Café. Jornal. Notícia. Xícara. Chão. Cacos. Grito. Choro. Porta. Elevador. Térreo. Rua. Corrida. Carro. Susto. BLAM. Sangue. Cacos. Fim. Amor.

domingo, 25 de julho de 2010

Poeminho do Contra .

Todos estes que aí estão
Atravancando o meu caminho,
Eles passarão.
Eu passarinho!


Mario Quintana

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Mudança de planos .

Uma quinta-feira sem sal. Dia de sol, muito sol. E uma dor enorme me impedindo de ir além da esquina- algo sobre o dia do futebol e aquela torção lenta pra melhorar. Conformada então a abrir mão da praia, o dia correu com tranquilidade e terminou de maneira inusitada, talvez nem tanto pra você.
Depois de muito reclamar que o tempo relaxante em casa não serviu pra fazer a dor passar por completo, comprometendo os planos de sair à noite, sentei no sofá com a pior cara do mundo pra assistir a um filme com a família. Como há muito não fazia.

Engraçado como toda a falta de atenção que tenho durante a semana caiu em cima de mim naquela hora.
Família é rotina. Todo dia o barulho da chave na porta. O jantar com histórias do dia, uma novidade ou assuntos do trabalho. O telefonema de quem vai chegar mais tarde. E o almoço demorado no domingo.
É mais. Muito mais do que nos habituamos a pensar. Às vezes o valor dá o ar da graça no susto de uma quase perda. Ou até menos que isso.
Outro dia vi um filme em que o pai dizia que quando teve seu filho, passou a ter a constante sensação de que precisava sobreviver. Eu acho que os filhos, não importando a idade, têm a confortante sensação de que possuem proteção. Por mais independentes que sejam. Por mais cliché que pareça.

terça-feira, 20 de julho de 2010

Sobre precipitar-se .

Decidir nunca foi tarefa fácil. Falo aqui das decisões de verdade, que causam dúvida e demandam tempo. Não dos contrastes óbvios da vida, nos quais o caminho certo está piscando de verde. É preciso pensar com cautela para evitar precipitações. Claro, errar é possível - e preciso. Mas, livre-se da pressa e ingira paciência antes de decidir algo, e aí sim fique à vontade pra errar. Para os pseudo-carpe diem lifestyle, que escolhem pular de cabeça logo de primeira, é preciso lembrar que embaixo do perfeito espelho d'água podem existir pedras.
Não é só para adentrar situações que existe precipitação. Pra sair delas também. Deixar passar uma oportunidade também pode ser resultado da sua antecipação. Da impaciência. Da ansiedade. E então a coisa como era não volta mais. Você pode tentar algo parecido, prometer pra si mesmo que não vai repetir o engano. Mas, o que era antes não volta não. Chata essa ideia de irreparável. Coisa forte essa da vida acontecer em um só tempo.
Racionalidade antes da coragem, e estamos bem para andar ou cair.



domingo, 18 de julho de 2010

Feedback .

Cheguei no Rio sem vontade de chegar. O cheiro da casa e a mala por desarrumar vão me situando pouco a pouco no meu lugar, e as perguntas de praxe já me doem os ouvidos: " Como foi o churrasco? Conta aí ! Tinha muita gente? Saíram que horas? ". Nessa hora eu sinto um escrito coçando na testa: " Me deixem quieta. ". É que voltei encomendada pelo cansaço e por uma vontade mais forte que o normal de ficar sozinha. Engraçado como aqui em casa isso é a coisa mais estranha do universo e sinônimo direto de mau-humor. Então, entrei no quarto e exerci meus direitos invioláveis de ser cansada e só querer comer uma maçã e dar uma bela espreguiçada na cama.
Feito isso, estou aqui. E à vontade, agora, pra dizer que subir lá pro frio foi a melhor coisa que podia me ocorrer neste fim de semana. Faz um tempo que as coisas não caem como uma luva, mas dessa vez foi assim. Não havia nada que eu precisasse mais do que os amigos de sempre, uma boa cerveja e um violão nas mãos de quem sabe (lê-se Dudu). Tudo isso a uma certa distância daqui. E pronto. Deixem-me no meu estado de latência até segunda ordem. Um fim de semana foi o tempo ideal. Ainda mais quando tratamos do frio e minha implicância com ele.

O bom de um momento assim é quando você consegue também transportar a consciência para onde esteja indo. E eu estava precisando mesmo renovar os pensamentos e selecionar alguns pra ficarem por lá. Tento há alguns dias fazer essa faxina na mente, mas muita coisa por aqui já me desagrada. Um enorme passo foi dado então, com 90% de desligamento mental e novos ares pra respirar. Tudo bem, uns pequenos contatos e umas poucas mensagens desnecessárias e ponto final. Fiz ótimo uso da distância e vi como estava com saudade de alguns.

Pondo a cabeça em ordem pouco a pouco, vou acabando com a política isolacionista e curtindo o ritmo da casa. Se continuar assim, eu digo que a semana amanhã começa bem.
Como há muito não começava.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Dia branco .

É engraçado como sou tomada por todo o peso e tédio de um dia frio e chuvoso como esse. Preguiça, cansaço e um sono sem fim são os acompanhantes para a mais criativa aventura dos dias frios e chuvosos: assistir a filmes e comer sanduíches inventados ou um bom brigadeiro de colher. Célebre ritual dos que, assim como eu, sentem que daria no mesmo ter acordado ou não em um dia como o de hoje. Sim, o frio está para o Rio de Janeiro assim como um peso de papel está para um cachorro. O humor de grande parte dos cariocas varia com o aparecimento do sol e com a temperatura local. Não gostamos de dias nublados.
Mas, excepcionalmente amanhã, subirei a serra para passar um pouquinho mais de frio. Não há nada de mal em entrar na dança quando a outra opção é reclamar e esperar o calor confortante voltar. Um fim de semana gelado cairá bem se o objetivo for não deixar nenhum dia das minhas férias expressas passar. O problema do frio é que não importa que roupa adequada eu esteja usando, sempre há um incômodo, nos pés ou no rosto, com a brisa gelada.
Pelo menos há uma vantagem nos dias brancos. A minha casa parece 10 vezes mais confortável, e é nesses dias que eu vejo como deixo de aproveitá-la durante a semana. Passa da categoria de base com mantimentos e dormitórios no meio da minha correria, para o lugar mais aconchegante do mundo, recebendo minha preguiça e vontade de nada, o dia inteiro, sem reclamar.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Começou hoje .

Nunca fui da arte da retórica. Falar é pra poucos e ser reclusa sempre foi de mim. É claro que as coisas banais do dia-a-dia e a comunicação normal de quem deseja ser simpático compõem minha fala. Mas o intimista, não. Só que eu não sou isenta da vontade de expressão. Faz um tempo que a garganta tem sentido a vontade de gritar, e por muitos motivos só acumula palavra por palavra. Então, fiz deste espaço uma sala de gritos. As atualizações não serão frequentes e talvez, em breve, eu não precise mais escrever. Na verdade, isso aqui não deve resistir ao tempo dedicado ao vestibular, que ainda me atormenta esse ano. Mas, enquanto der certo e for necessário, alguma coisa vai falar de mim aqui. E por mim.
A fala pode ser inconveniente e, muitas vezes, sua vontade de falar não coincide com a do outro de ouvir. Já a escrita pode vir sem permissão, e ler ou não vai ser sempre um problema deles.
Salva, então, por essa forma pura, simples e silenciosa de expressão, eu reforço que falar não é pra todos. Escrever também não.