quinta-feira, 26 de abril de 2012

Breve branco

"Quais são suas prioridades?" - você me perguntava, querendo entender a lógica da minha frieza quando comparada ao seu amor. 
Eu pensava, refletia, repensava e aí dizia: "nenhuma."  E era isso mesmo que você tinha escutado. Eu lembrava dos amigos, da medicina, da família e de você. E não via nenhuma onda bater mais forte que a outra em mim. Talvez porque a prioridade maior fosse mesmo a vida de menina risonha, despreocupada e, quando possível, equilibrada. E a vida, pra mim, era tão cheia de cor, tão cheia de gosto que todo complemento que entrava nela e passava a ser um limitante, acaba comigo. Acabava com a paz, acabava com o riso. Desequilibrava a dança dos elementos que compunham a minha felicidade adolescente.
Então, você foi meu complemento e minha companhia. Mas de que adiantava se procurava mesmo era um amor?
Eu seguia leve os dias. Mas você foi ficando pra trás em algum ponto desses que a gente não sabe muito bem dizer onde fica.
Então, meu bem, um dia quem sabe eu encontro um motivo que me faça assim largar de tudo. Alguma coisa para a qual eu me doe tanto, que não sobre nenhum pedacinho assim pra mais nada. Algo que me faça ir tão fundo que eu esqueça de mim. Que esqueça do resto, do tempo, do sono e do corpo. Que seja tão forte que me tome cabeça e coração, que me inverta as ideias, que me troque todo o ar dos pulmões por um ópio forte qualquer e que me faça resumir todas as milhares belas partes da vida em uma só, e ainda assim valeria a pena viver. Que nem o catavento colorido, que a gente vê girando rápido e aí vira tudo uma coisa só. Branca.


Mas agora não. Agora não. "Quem sabe um dia" - eu repetia. 

Por enquanto só queria dormir, pra fazer o dia acabar logo. Pra fazer a paz voltar. 
Porque sempre volta. É um dia após o outro, não é? 
Deixa a regra me curar, a poeira baixar. E toda a minha vida retornar pra mim de novo. Em cores, por favor.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Gosto de menta


Precisava de alguma coisa que fosse assim inesperada. Como criança agitada, ela não suportava muito do mesmo. A rotina que, no início, vinha com os bons ares da organização e da disciplina, logo se transformava no ponto que ela mais queria eliminar da sua curta e única vida. Precisava, assim, acordar um dia com um sol brilhando em verde. Todas as árvores amarelas e um brilhante e inesperado talento para música. Queria sair andando em ré, falando árabe e sendo destra. Precisava de algo atípico, de um susto grande, de uma surpresa da vida que não tivesse nenhuma outra intenção além do simples prazer de desconcertar. Não precisava ser coisa grandiosa...ela nunca exigiu muito além da felicidade.
Pois bem. Podiam ser aqueles sustos de quando uma formiga te pica na grama, quando uma castanhola estala em cima do carro ou quando o beijo tem gosto de menta.

"Só pra sair da rotina" - pensava, como quem reza uma prece.