sábado, 18 de janeiro de 2014

Cena

Eu procurava no seu rosto os sinais de qualquer mudança que o tempo pudesse ter feito. Gostava de te observar enquanto falava, porque fazia bastante tempo que não sentávamos numa mesa de rua pra papear sobre a vida que acontecia ao vivo.
No início, senti tensão. Mas depois de muitos brindes, já ríamos bastante das nossas próprias e ordinárias vidas. 
Assim como eu, você não gostava de encarar enquanto falava. Desviava o olhar como quem sofre um tantinho com a timidez, mas nem por isso deixava de estar bem ali.
Notei suas pupilas enormes. E enquanto você ria (o tempo todo ríamos) e tentava me explicar que aquilo era constitutivo, eu já estava admirando aquele risquinho de íris verde que agrada a quem nota.
No fim, o sono já perturbava e, como toda noite que se preze, já tínhamos feito amigos. Daquele tipo de amigo efêmero, mas que ali, com os copos cheios, são sempre os melhores amigos do mundo.

Eu tinha prometido rir mais esse ano. 
E depois de tanto desabafo, depois de você me ouvir (porque eu precisava ser ouvida nessa sexta) e falar também as suas histórias que divertiam; depois de cogitarmos rodar o Rio; cair na Lapa; ver o sol nascer e todas essas coisas que se pensa no meio das cervejas, me vi satisfeita. Porque fui embora com o corpo e a mente bem mais leves do que quando cheguei.
O rosto e a alma rindo juntos.

Obrigada.

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Desejo

Eu podia esperar do ano que agora começa doses imensas de múltiplas coisas. Podia querer que transbordasse amor, que chovesse sucesso, que brotasse dinheiro e que viajasse o mundo inteiro. Como é típico da idade e desses inícios-de-ano-esperançosos-e-renovadores, eu poderia, muito bem, ter planos de abraçar o mundo. Todinho assim, num ano só. 
No entanto, falei com Deus que eu não iria encher muito dessa vez. Que prezaria pelo simples. Me contentaria com pouco e seria mais grata. Seria humilde e menos exigente. Pedi, então, que nesse ano eu pudesse, apenas, rir mais. Rir assim de gargalhar. Rir de modo que não apareça só o aparelho ou o dente roxo de vinho, mas gargalhar até a alegria se fazer tão presente que comecemos uma história de amor. Que eu possa olhar pra ela e não desejar nada mais. Que possamos ser melhores amigas e que ela me visite sem precisar ligar antes. E se ela (a alegria) viajar, que volte logo pra mim de novo. Eu quero rir quando tudo pesar também, pra ver se levanto mais rápido desses sustos que a vida dá.

Como parte do pacote 'alegria para consumo humano', veio você. Juro que não pedi pra ser tão bom assim. Deve ser pra dividir o que vier de bom. Deve ser pra ficar mais fácil multiplicar o sorriso. Pra toda essa felicidade começar fazendo sentido. Pro sorriso ter, assim, uma razão de ser.

"Não podia ser diferente" - eu penso.
"Quando você pede felicidade a Deus, Ele lhe dá, na verdade, a oportunidade de ser feliz".