domingo, 30 de novembro de 2014

Além do tempo

Confesso a você que o medo me domina. Eu acordo pensando nisso, eu tomo café pensando nisso e, quando finalmente o dia me distrai desse pensamento, ele volta a me invadir no escurecer de um dia quente. A inquetude toma conta de mim e eu preciso me mexer pra que o corpo se esqueça de chorar. Se paro, sinto um riozinho invadir os olhos e, não tem jeito, a cabeça me castiga novamente e me fornece avisos luminosos de que sim, você vai embora pra muito, mas muito mais longe do que sou capaz de seguir agora. Tento com todas as forças pensar que vou atrás de você um dia. Que nossa história tirará férias, mas que depois precisa voltar a trabalhar e gerar frutos. Tento por tudo imaginar a nossa vida de novo como está agora, só que dessa vez sem ninguém pra impedir. E consigo (juro) sorrir brevemente com esse cenário acalentador. No entanto, o agora é rasgante. Cenas felizes convivem com a dor excruciante de uma despedida que ainda não aconteceu. Eu olho pra você e, junto do seu sorriso sempre admirável e dos olhinhos claros sempre vivos, vem uma efemeridade que toma corpo e paira no ar que dividimos. Ela vem me lembrar que a coisa mais tenra e feliz que Deus me deu no momento está pertinho de partir. Tenho medo da dor, tenho saudades antecipadas e tenho um sentimento de gratidão secretinho aqui dentro. Você me ensinou a crescer em pensamento e também mostrou que a vida pode ser extremamente mais leve se assim fizermos dela.

Peço, então, que lembre de mim. Lembre do filme que fizemos sem câmera e do livro que escrevemos sem tinta. Lembre com carinho da nossa coragem em viver tudo e da nossa felicidade compartilhada que supera qualquer outra felicidade que eu já tive a oportunidade de sentir sozinha.
Ao largar as malas no seu quarto, afrouxar os nós dos sapatos e abraçar na sala o primeiro ente querido morto de saudade do teu abraço, lembre que você mudou alguém pra melhor. 
A partir daí, lembre disso todos os dias de manhã. Que eu estarei fazendo o mesmo daqui e, assim, a nossa sintonia em pensamento, sempre presente, vai ganhar vida pra muito além do tempo.