quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Em paz

Estar em paz de espírito não é nadar num mar de rosas. Não é ter completa estabilidade e esbanjar sorriso 24h por dia. Estar em paz não é, muito menos, ter a capa protetora dos problemas, do males, dos estresses e das dores. Isso vem no pacote-vida. Isso atinge todo e qualquer mortal. Então você aí, que almeja e busca a paz, por favor não tente fugir dos problemas. Não pense que não vai tropeçar. Que não vai chorar e nem vai acordar vendo o mundo virar cinza.

Estar em paz de espírito é sorrir no escuro e dançar em meio a tempestade. 
A paz, segundo a minha própria alma (que me sorri neste exato momento), é quando, mesmo com todas as nuances do dia, com todos os tapas e todos os sustos inerentes a "estarmos vivos", existe a certeza de estar assim: plenamente feliz.

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Fim do ano

Não subestime o fim do ano.

Sei que é nele que o cansaço pesa. É no fim do ano que enchemos o saco de quase tudo e quase todos. É nele, também, que a linha de chegada parece se afastar a cada sofrido e pesado passo que damos. No fim do ano, muitas vezes, a questão não é mais evitar quedas, mas conseguir levantar e se apoiar nas pernas de novo. Encontrar uma reserva de forças como quem procura num mapa um tesouro escondido. Sei, também, que nos últimos dias do ano, o que importa não é muito o agora, mas a grande virada; o ano que vem; o novo que chega. E tem que chegar logo. Porque como meros mortais cansados, não aguentamos mais esperar.

Mas, ainda assim, não subestime o fim do ano. Se dê o luxo, ainda, de esperar por algo. Deixe uma brechinha assim que seja de coração aberto para esses últimos dias. Não custa nada dar carinho na alma e deixar que ela ainda se leve por coisas boas que possam surgir. Um cantinho só que seja.

Deus não precisa de muito pra introduzir surpresas na vida.

E quanto mais no fim; 
Bem ali, aos 45 do segundo tempo;
Pertinho dos créditos do filme; 
Dos aplausos da peça;
Do suspiro final;

Maior a surpresa que te invade.
Que nem a surpresa que me invadiu.

terça-feira, 26 de novembro de 2013

Simples

Eu não queria nada muito exuberante assim não. Só uns 7 dias de pé na areia, pôr-do-sol pra se apreciar (e não se apressar) e os ombros mais leves assim, sabe? Como se tivesse a sensação gostosa e constante de tirar a mochila das costas e jogar no chão. Seguida de uma boa e longa espreguiçada.
Queria parar de brigar com o sono, desenhar numa parede, ler gibi e assistir a cultura inútil na TV. Pegar o carro e ter a única preocupação de ir pela orla.
Não me importar se chuva ou se sol.
Afinal, em mim não choveria mais.

terça-feira, 5 de novembro de 2013

Som

Às vezes eu tinha raiva. Preferia não pensar em você. Não ver você. Não ler você nas fotos e nem assistir a você nas lembranças. E logo me dava conta, rindo, de que a raiva durava o incrível tempo de 3 minutos.

Eu sentia você, de algum modo, perto que nem naquelas horas em que a gente escuta um barulho apitando e não sabe de onde vem. Cola a orelha na mochila pra ver se é o celular. Aperta todos os botões do relógio digital. Coloca a culpa no celular alheio. Vai conferir se a geladeira ficou aberta. E nada. Não se pode encontrar da onde vem o diacho do barulho, mas há a plena certeza de que está presente. "Olha agora! Está aumentando" - repito com a orelha colada no ar, os olhos arregalados e o dedo apontando pro nada, na pose de alerta da pessoa mais perdida que poderia haver na cidade.

Pois estou assim. Me apegando ao nada pra fazer você viver em mim. Às vezes acordo ótima e tenho vontade de pular de paraquedas. Noutros dias dá saudade e eu fico me convencendo, sozinha, de que você está aí. Meio longe, mas está. Meio quieto, mas está. Meio na sua, mas está. 

Bem ali. Eu juro que escuto.
Sozinha, mas escuto.


       


segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Deixa sair


Venham e digam que errei. Digam que não nasci pra tal coisa. Digam também que esperavam mais, que apostaram mais, que queriam mais. Venham e critiquem, pois vou ouvir. E anotar. Façam uma lista: erro 1, erro 2, erro 227, que vou ler e estudar. Que vou ouvir e vou guardar. Vou receber, absorver. Vou aprender. Vou decorar.

Mas nunca, por favor, nunca digam que não tentei.


Pra quem se dedica de verdade, a frase vem como uma punhalada no peito. O corpo se fere e guarda aquilo. O corpo é forte e aguenta algumas. "Segura firme", peço a ele. 
" Mas você não tenta melhorar" - mais uma faca.


Então tem um dia, meu amigo, em que as punhaladas sangrantes doem tanto, que você grita de dor. Antes ficava em silêncio. E um dia, um dia normal desses aí, grita, extravasa, abre o peito e mostra "olha aqui como eu tento. Olha aqui como me esforço". 

A energia se concentra e sai toda numa vez só. E não tente ser mais forte que ela nessa hora.
Deixa ela sair. Um corpo que era cárcere agora deixou a alma falar.

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Bem acompanhada

Gosto de pensar, nas minhas infinitas distrações diárias, que estar sozinho não é o mesmo que estar solitário. Tenho a sensação de que estar solitário é estar sem ninguém e querer uma companhia, enquanto estar sozinho é estar na doce e, muitas vezes, despercebida companhia de si próprio. É deixar a alma falar tudo aquilo que a atormenta diariamente e encarar de frente os assuntos deixados de lado por péssimos ouvintes que somos com nós mesmos. É se bastar, por uma tarde que seja, com o carinho e a generosidade próprios; com a atenção e o repouso que a mente, sempre doada a outrem, às vezes precisa como presente nosso pra gente.

Por isso, não tenha medo de estar sozinho. De ouvir, às vezes até pela primeira vez, o que a companhia lá de dentro pede, fala, agradece, clama, chora ou, no meu caso, grita.

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Pra ser feliz

É pela felicidade que levantamos todos os dias, ainda com sede de sono, e entramos mecanicamente no banho. E tomamos mecanicamente o café. E pegamos mecanicamente o trânsito. É para sermos felizes que abrimos o livro contra a vontade; que apresentamos o trabalho; que enviamos o relatório e cumprimos os prazos de uma agenda cheia. É pela felicidade que sofremos por amor, que mergulhamos na incerteza e nos entregamos a outrem sem saber muito bem o que farão da gente. É pra sorrir um pouquinho que obedecemos os pais, que abrimos mão do que queremos às vezes em prol de algo maior e ainda desconhecido. 
A felicidade almejada é a força motriz dos dias de cão, dos dias de luta, da perseverança apesar das dores nas pernas, do frio na barriga de medo e das olheiras de sono.

Acontece que a felicidade gosta de se revelar só depois de um longo tempo testando o caçador de sorrisos. A história de busca por ela é um mar de contradição. É aquilo que nos faz questionar o-que-é-que-estou-fazendo-aqui; é uma sucessão de coisas que significam TUDO, menos ser feliz de verdade. 
No fim, no dia em que a felicidade resolve dar o ar da graça, temos um tempinho muito menor com ela do que gastamos buscando-a. É como se ela fosse fugaz. Parece que tem que sair logo correndo porque a demanda no mundo é grande.

E o estranho é que vale a pena mesmo assim. E logo recomeçamos um novo trajeto, só pra sentir de novo o gosto efêmero, mas intenso, da recompensa em nossas vidas. Sentir o abraço que a felicidade dá quando vem nos cumprimentar. Enxugar o suor. Nos botar pra dormir tranquilos. Invadir a alma e recuperar em nós o gosto pela vida. Dar uma carga de energia no corpo quase morto.

É por esse momento incomparável de comemoração nossa com a gente mesmo que vale a pena dar tiro no escuro todo dia. Que vale a pena se jogar de corpo e alma e esperar ansiosamente por aquilo que não vemos, mas que chega.
Sempre chega.

terça-feira, 14 de maio de 2013

Dançar na chuva

Uma vez ouvi dizer que toda energia que chega ao pico tende a declinar.
Não pode ser verdade. Não assim tão mecanicamente.
Essas coisas da vida, o azar ou a nuvenzinha negra que às vezes vem pousar sobre a cabeça são incumbências da sorte. E só.
Por isso calma. Respira e, por favor (dizia a voz de dentro dela), tenha fé. Tenha fé na vida e no que você escolheu fazer dela. 
A melhor parte do dia, vou dizer, foi/é falar com você. Me traz a alegria que hoje resolveu não trabalhar. Traz uma festinha no coração. E eu sinto, antes mesmo de dormir, o dia ruim indo embora de mim.

Sozinha no friozinho do bairro, eu divagava sobre todas as coisas que se perderam na cabeça durante a correria e o estresse. Me cobria com a rede em que deitava, balançava preguiçosa com a mão tocando o chão e sentia a paz invadir o peito que hoje tanto me sufocou em agonia. Que me deu nó na garganta de choro. Mas agora tinha um cantinho pra ficar só.

Quem diria que o frio pudesse ser tão acalentador como me era agora.

domingo, 21 de abril de 2013

E se

E quando eu parava pra olhar; quando parava um pouquinho pra notar o presente em vez de tentar adivinhar o que ainda está por vir; quando me acalmava e me deixava levar pelo que vida me dava agora, aí sim sentia o calor da felicidade invadir o corpo. Que nem criança distraída ou ansiosa como só eu sei ser, às vezes me perco olhando o mundo, olhando pra fora da gente e olhando tudo o que me tenta nessa idade e nesse chão. E então, depois de passar o olho em cada detalhe, de analisar o que poderia ter sido se não fosse isso, de revirar a cabeça com " e se, e se, e se", eu olhava pra você e pro seu olho clareando no sol do Leblon, e ouvia baixinho aquela música que a gente gosta : "olhar nos olhos de alguém e conseguir dizer: estou feliz." 

segunda-feira, 18 de março de 2013

Falta

Quando pequena, eu tinha um livrinho que minha mãe costumava ler pra mim cuja história eu sempre curtia como se tivesse acabado de ouvi-la pela primeira vez. Era sobre uma menininha que se preparava para dormir, apagava a luz, agarrava sua boneca, se enterrava no cobertor, dava boa noite para o brinquedo e dizia que ia deitar, mais ou menos nessa ordem. Então, de repente, ela se levantava, acendia a luz e dizia: "Mas está faltando alguma coisa por aqui!". Então vasculhava o seu quarto em busca do palhaço magrelo, cumpria o mesmo ritual de boa noite e finalmente fechava os olhos, agarrada nas duas pelúcias agora. Logo em seguida ela levantava, acendia a luz dizendo estar faltando algo e mais uma vez catava o brinquedo faltante. E o livrinho assim seguia. E eu ria e tinha frio na barriga toda vez que a menininha levantava, como se não soubesse o que iria acontecer e quem seria o próximo convidado da noite a se juntar ao clubinho do sono. Só sei que alguma hora não faltava mais nada, ela dava boa noite a todos os mil bichinhos e dormia com os anjos.
Lembrei dessa história hoje (e daria tudo pra achar esse livro perdido aqui) porque se o pegasse pra ler agora, talvez me identificaria depois de crescida também. Não por rir (ainda) das 500 repetições na saga dos bichinhos de pelúcia. Mas acho que por pensar, assim como a garotinha do livro, que está faltando alguma coisa por aqui. "Aqui" eu digo vida. E a "coisa" eu digo coisa mesmo, porque não sei o nome disso que tanto me perturba a cabeça as vezes. 
Muita coisa me alegra e me traz uma paz tão plena, mas tão plena, que por uns instantes eu acho que a vida nunca foi melhor. Tenho você, tenho meu curso, tenho a companhia, o carinho e tudo mais que alegra e acalenta um ser humano.
Mas basta viver um domingo assim vagaroso, basta chover um dia todinho, basta estar só na companhia de um livro, que aquela chata constatação volta a martelar a cabeça. 
E me amedronta porque não é sobre o domingo. Não é só pela chuva. Nem só por estar só. É algo maior, que tenho medo de pensar. Nebuloso, entende? Não toma logo uma forma no pensamento. Só dá frio na barriga. E uma angustiazinha suportável. Não diria que me impede de fazer nada. 

Mas me faz lembrar -temporariamente, eu espero- que, definitivamente, está faltando alguma coisa por aqui.

domingo, 27 de janeiro de 2013

Por trás da vida

Eu costumava questionar por que Deus, sendo tão grande e poderoso, não dava o ar da graça por aqui. Quer dizer, todos os dias eu ouvia falar que esperavam por Ele como quem espera um grande encontro. E eu não via nada acontecer há tempos. Não via uma luzinha sequer, um chamar de nome, nem nada do tipo. Foi aí que, de repente, achei que Deus estava mexendo as ondas do Arpoador hoje de tarde. Achei que estava mandando o vento que bagunçava o meu cabelo, mas não me fazia sentir frio. Achei, também, que Deus abençoava o Rio naquela hora, não porque abrisse os braços todos os dias lá de cima do morro, mas porque comecei a ver os sorrisos dos cariocas num dia nublado com samba de carnaval. Vi de perto a saúde e a força daquele lugar. Vi a vida acontecer tão plena e tão intensa que não tive dúvidas, ali, que alguém mandava um recado de bem longe (ou de bem perto). Que alguém, por trás de tudo, regia a felicidade de um domingo ao ar livre. Foi aí que lembrei de muitas outras vezes em que Ele mandou recado. Muitas delas remetiam aos meus encontros com você. 
Acho que a felicidade com você é tão plena e tão sincera; é tão fácil e tão presente que, se não tiver a mão de Deus ali por trás, meu amigo, não vale a pena acreditar em mais nada nessa vida.