quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Pro que der e vier

Eu preferia ficar sem lente a ver seus olhos arregalados fuzilando o ambiente. Pra não ver o seu semblante desesperado, nem o coração saindo pela boca, eu gostaria de ter ficado cega mais um bocado e, assim, guardar na memória a cena de ternura de minutos atrás. Do beijo acalentado e do abraço fervoroso (prestes a termos nossa mais tenra despedida, como sempre), você passou a um poço de tensão e ansiedade, contrastando com nossos momentos alegres de outrora.

Quis gritar. Quis pegar o "muito gosto" abusado e dizer que aqui no Brasil nós dizemos "muito prazer". Pois aqui é minha casa. Meu lugar e minha morada. E que Copacabana já me era de intimidade. Que daqui não me expulsam jamais. Mas eu, já acostumada a pensar antes em você, preferi sair com o gosto de injustiça na boca em vez de ver você se mordendo por dentro. Pedi que me acompanhasse até o trem, pra me despedir como fazíamos em todos os dias da nossa felicidade compartilhada.
Mas não adiantava mais. Eu sentia a sua frieza e sua mudança da água pro vinho. Sentia queimar em você o constrangimento que se instalou num simples abrir de porta no hall do elevador. Eu não te teria mais essa noite e, assim, não restava alternativa a não ser ir embora, mesmo querendo ficar. Descontei o desgosto num transeunte engraçadinho qualquer e me pus a descer as escadas com vontade de sair correndo.


Afinal eu já ia. Mas você quis que ficasse.
Aliás eu nem queria a saideira da cerveja. Mas você quis mais papo. E eu, feliz que sou do teu lado, me pus a papear sobre mais segredos da minha vida pacata.


Eu não sei se caímos de cabeça ao mesmo tempo nessa coisa nossa. Como uma dupla de salto, a sincronia perfeita é o objetivo e a mínima diferença, às vezes, põe o resto todo em xeque.

Mas eu prefiro acreditar que sim. Que estamos caminhando a passos largos e juntos. Que buscamos a mesma felicidade. E que olhamos pro nosso triste prazo de validade com os olhos de esperança em fazer de poucos meses, os melhores do mundo.

Por isso, estou aqui. E faço mais uma vez o meu convite apaixonado pra você vir. 
Pro que der e vier comigo.

terça-feira, 2 de setembro de 2014

O que aprendi

Com você, eu vinha aprendendo a forma mais pura e simples de felicidade que já tive a oportunidade de conhecer na vida. É que a minha felicidade, vou te contar, existe sempre lapidada e moldada segundo moldes-não-meus. Começa assim: como uma criança que acaba de nascer, a minha felicidade surge pura e ingênua bem no cerne da alma; espontânea, como tem de ser. Mas, quando começa a dar os primeiros passos mundo afora, ela (a felicidade) aprende a dançar conforme a música que toca no mundo, a agir conforme o costume que prezam no mundo e a sorrir conforme o sorriso aceito no mundo. Como se o neonato de outrora estivesse crescendo e, contaminado pelo entorno, fosse desistindo de sorrir com a mesma força de antes e fosse abrindo mão da pureza um dia tão forte.

Pois bem, você não tem medo de ser feliz. Sem esforço aparente, você caminha com a janela da alma aberta, para que possamos ver, lá dentro, o filme de genuíno enredo que te habita todos os dias e que mostra, a quem interessar possa, o que realmente faz você feliz.