segunda-feira, 12 de setembro de 2016

Flor da mesa da sala

Lembro daqueles amores intensos. Das raras vezes em que eu tinha certeza de querer tanto alguém que nada mais importava muito. Essas paixões que chegam do nada e, infelizmente, costumam ir embora tão rápido quanto apareceram. Acabamos esquecendo daquilo que chega devagarzinho. Acostumados a uma vida de sensações arrebatadoras e fugazes, esquecemos que amor também cresce aos pouquinhos. A gente sabe muito bem que pequenos danos, pouco a pouco, desgastam relações inteiras a longo prazo, mas não paramos pra pensar que carinho e companheirismo, de pouquinho em pouquinho, constroem um amor inteiro quando menos esperamos.

Chegar na primavera e ver um jardim imenso, colorido, transbordando de flores, é de brilhar os olhos e encantar de cara. Apaixona o coração de quem teve a chance de ir cheirar ali, quase sugado por um perfume desconhecido e intenso. Mas é preciso lembrar da flor que é regada, dia a dia, e que a gente chega até a esquecer que ela também desabrocha. Quietinha, ninguém a viu chegar.

Mas desabrocha. Aí a gente se espanta com a beleza no meio do que, um dia desses, era terra. E fica de cara com o quanto ela dura ali na mesa da sala. E vai durando. Uma coisa tão pequena, que eu mesma não vi chegar. E vai durando. E causa apego de modo que sem ela a mesa da sala nem é mais tão bonita.
A flor não-arrebatadora apaixona devagar.