segunda-feira, 28 de março de 2016

Pegar a câmera e fechar a lente num único ponto da vida tem lá seus problemas. Essa mania de zoom nas coisas que parecem super importantes tem aí umas desvantagens. Perde-se a capacidade de mover o rosto pros lados. De mover os olhos em círculos e dar a volta na paisagem sem sair do lugar. Perde-se a capacidade até de ouvir os sons que vem dos lados (aqueles que atiçam a curiosidade pra gente catar de onde estão vindo), porque tudo o que se vê é aquela única coisa no altar, que recebe todos os flashes de uma vez só. Aí, se aquela foto começa a sair embaçada; se começamos a estranhar o ângulo e nos decepcionamos com o resultado, não há outra coisa que nos segure da queda.
Zoom pode ser danoso pra quem não sabe usar a câmera.
Tenho preferido as paisagens mais amplas. Tenho procurado enriquecer a vida com mil cores diferentes para, assim, poder me impressionar constantemente; com os olhos de criança que depois de enjoar de um brinquedo chato, olha pro lado e encontra motivo pra sorrir de novo.

A idéia não é aniquilar as coisas ruins, que sempre estarão lá e são fruto do acaso. Mas fazer a coisa ser menor. Que nem quando a gente dilui o remédio ruim num copo d'água gigante e não sente o amargo na garganta.

Veja bem, não quero dizer que vida não tem gosto ruim às vezes. Mas é preciso diluir. Encher isso aqui de água até que o amargo atinja menos.  A vida com paisagens amplas é assim. 

Acaba que, num jardim bem colorido, duvido que você note a única rosa morta.