segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Sob medida

De novo, voltava na mesma ideia: no dia em que resolvesse parar de esperar dos outros e da vida, talvez ela conseguisse exatamente o que precisava. Seu problema estava sempre no excesso de expectativas. Esperava sol no domingo, esperava flores naquela data importante, esperava chuva do céu cinza e esperava colher tudo o que plantava. O estranho é que as vezes colhia uns espinhos em vez das flores que tanto queria. Esperava o amor e tomava era uns socos. Esperava calor e morria de frio. Esperava alcançar a linha de chegada e ficava sempre por um triz. Não entendia como a vida podia não dar a ela os frutos inteiros do seu esforço. Talvez se cobrasse demais, era o que diziam. Talvez duvidasse demais, diziam também. E ela se afogava no seu próprio oceano de cobrança. Quanto maior a expectativa, maior seria o tombo.

E no dia em que resolvesse viver o presente em vez do futuro (que, por sinal, ainda não existe), aí sim talvez a vida viesse feita sob medida pra ela. 

sábado, 19 de novembro de 2011


"A única preocupação será, então, o cuidado pra não cair na rotina", dizia ela, firme e decidida.
Queria mesmo sentir na pele a imprevisibilidade da vida. Andar por aí sem esperar nada, deixando-se surpreender como uma criança que arregala os olhos quando vê uma lagarta listrada. Deixar por conta do vento o estilo do cabelo. Sair de casa entregue ao dia e ao seu estranho itinerário em tempo real. Não traçar no papel o caminho a ser feito, mas confiar que de alguma forma ele vai se fazendo.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

E você tentava falar, e não saía nada. Falava, falava. E não falava nada. Se no outro dia você havia falado demais, agora o que imperava era o silêncio, alguma culpa e muita fuga. Me pego pensando, às vezes, que diabos eu estava achando que você poderia me dar. Nós, dois túmulos fechados sem o menor traquejo em expressão. Mas o problema não era bem esse. Se usássemos sinais, escrita, códigos, o que fosse, ainda assim não nos entenderíamos. Você havia falado um mundo naquele dia e, agora, não sabia o que fazer com o que havia criado. Só sabia fugir e se afastar da responsabilidade. Colocando no meio uns traumas passados pra dar aquela caprichada. Enquanto eu, quieta no meu canto, observava a cena sem acreditar. Talvez risse um pouco, dentro de mim. Ria da minha falta de experiência. Pois eu agia como menina ao confiar em você, achando bobamente que a regra de só confiar em si mesmo mudaria por acaso nessa vida de armadilhas. 
Então tá. Amanhã logo passa e eu sigo de novo com meu pé atras.
Já você seguiria com o peso da imaturidade, do medo de mergulhar e com aquela cobrança excessiva da qual tinha me falado, que talvez acabasse se você prometesse um pouco menos.

Ou, então, seguiria sem peso nenhum. Nem sei mais o que se passa na sua cabeça. Vai ver não passa nada.
Abro mão de pesquisar.