quarta-feira, 20 de abril de 2011

Panorâmico

Meu bem, sabe quando vamos viajar e, na hora da decolagem, vemos a cidade de se afastando lentamente? Naquela hora, de noite, em que os cansados já cochilaram, os leitores já se concentraram e você observa a cidade ficando pequena, lá embaixo. Existe um momento que quero lhe contar, nessa subida. É antes de as pessoas virarem pontos e de as primeiras nuvens começarem a passar pela janela. Existe uma hora, bem aí, em que a cidade da qual estamos saindo parece fazer todo o sentido. Lá de dentro, tudo é um caos, tudo é gigante e quase nada é do nosso controle. Mas nesse momento que estou lhe contando, dá para observar os quarteirões em perfeita simetria. Os espelhos d'água bem delimitados. E aquela minhoca de luzes vermelhas de faróis infinitos serpenteando entre os prédios, como se dançasse lentamente pela selva de pedra. Lá de cima, não ouvimos as buzinas impacientes, nem respiramos a fumaça constante. É tudo sereno, simétrico, sei lá. Podia haver uma trilha sonora e pronto. Faria tanto sentido a cena observada, seria de uma organização tamanha que o prazer e o alívio de vê-la atingiria até o mais estressado cidadão. 

Pois bem. É isso que estou fazendo agora. Olhando a gente lá de cima, do ponto perfeito onde tudo faz mais sentido, de tal modo que de dentro dos acontecimentos e da rotina, somos verdadeiros cegos, aflitos, sem entendimento. Quero olhar do alto, ter a vista panorâmica do nosso filme, da nossa novela. Tão linda que é. Mas ultimamente tem me convidado a fazer essa viagem, fugir um pouquinho pra pegar o melhor ângulo. Desvendar a minha cabeça como uma sagaz observadora. Que não perde um detalhe sequer da imagem que observa. 
E a imagem, meu amor, é a gente. 

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Movimento

Sempre que penso em liberdade, imagino coisas em movimento. Sim, a liberdade me remete à cinética. Não sei dizer ao certo por que essa ideia sempre perseguiu a minha cabeça. Espere, aí vai mais um indício. Viu? O movimento é tamanho que nem os pensamentos conseguem congelar 1 segundo aqui na cabeça para que eu possa explicar a você que diabos de ideia é essa de liberdade ser movimento. E que frase mais longa e sem pausas foi essa minha que mais parece que sai correndo antes que você possa terminar de ler. 

Já que não sei escrever o motivo pelo qual tenho tal imagem da liberdade, vou deixar que caiam aqui algumas cenas que me ajudem. 

Cabelo solto ao andar de bicicleta. Mão pra fora do carro na viagem da estrada. Correr pro mar pra furar uma onda. Rabiscar um papel branco até rasgar. Jogar balde de tinta na parede. Cantar alto quando toca a sua música. Banho de cachoeira. Um chute sem direção. Um pulo de pára-quedas. Rasgar blusas. Subir num impulso pra superfície depois de muito tempo prendendo o fôlego. Apostar corrida até a cozinha. Levantar a pessoa que você está abraçando. Andar pulando a parte preta do chão. Folhear um livro novo em 2 segundos e sentir o cheiro dele. E ter vontade de dançar no meio da rua a música que o mundo paralelo dos seus fones do iPod transmitem no volume máximo...

Liberdade cineticamente gostosa essa que tenho em mim.


sábado, 2 de abril de 2011

De dentro pra fora

Se pudesse, eu te encaixava no melhor lugar dos meus dias. No melhor horário, no pico do bom humor e com toda a atenção que você sempre mereceu. No meio da minha confusão da rotina e da cabeça, acabo perdendo em alguma caixa, mochila ou gaveta aquela saudade forte e constante que me fazia correr atrás de você não importava em que circunstâncias. Não entendo por que a distância se fez tão presente pra mim, de repente. O tempo continua aí, os dias têm a mesma quantidade de horas que sempre tiveram. E você...ah, meu bem. Você ainda é o mesmo, com seu carinho pontual, seu sorriso de ressaca, seu abraço confortante e sua atenção, que mais parece um mar de consideração. É um conjunto que me faz calar a boca. Que me faz agradecer em silêncio e concluir que qualquer insatisfação, nesse caso, teria a mesma lógica que há em chutar uma parede. 

Pois bem, o que me deixa tão inquieta no meio de tanta estabilidade? É melhor começar a procurar em mim, em vez de catar na paz externa o motivo da minha aflição. Em vez de procurar no dia ensolarado o motivo da minha chuva. Em vez de tentar entender minha seriedade olhando pros sorrisos lá fora. Vê como não tem sentido?  A grande verdade é que não parei pra ME pesquisar. Pra vasculhar AQUI dentro o que realmente está acontecendo. Esperei que as opções externas se esgotassem. Agora sobrei. Confesso que estava com medo de descobrir o que se passa aqui dentro. Vai que essa consciência tá sabendo mais do que eu? Geralmente ela fala coisas bem interessantes. Panoramas que esclarecem as ideias. Respostas que eu andava procurando há tempos. Então, eu paro de fugir. Me rendo a mim mesma. Tragam o espelho. Quero ver o que ele diz.