domingo, 1 de julho de 2018

Pontilhismo

Tentei achar, nas últimas semanas, o ponto exato em que nos perdemos e, em vez disso, minha mente me pregou peças mostrando cenas do dia exato em que nos achamos. Verdade é que existe um filme da nossa história na minha cabeça - que só eu tenho o prazer de assistir - e nele estão, em alta definição, as cenas da noite esquisita em que te vi a primeira vez. Enfim, sacudi a cabeça como quem sai de uma hipnose em desenhos animados e tornei a me concentrar no que fazia antes, garimpando o rio que passou em nossas vidas em busca de um divisor de águas. Porém, passadas as horas preguiçosas deste domingo de casa vazia (os melhores papos comigo são em domingos assim), não obtive êxito e percebi que nossa história é como aquelas obras de pontilhismo. Quer dizer, apreciar uma arte dessas focando nos pequenos pontos enfileirados e tentar desvencilhá-los uns dos outros é perder completamente a harmonia do todo. Apesar de você ser um marco claro em minha vida, a harmonia e a beleza dessa história só tem sentido se respeitarmos o limite de distância imposto a quem aprecia as obras de um museu. Às vezes, por teimosia, volto a focar em um ponto colorido específico do todo e, rindo, me desaprovo, obviamente.

Nossa história pontilhista, como toda boa arte, permite mil interpretações distintas. É observador-dependente, assim como o é tudo aquilo que envolve amor. Mas não importa muito. Mesmo passando por todas as nuances de sentido que passam as obras-primas aos olhos do mundo, nossa história também carrega a vantagem artística de poder ser para sempre apreciada.



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