Eu, você e a chuva. De vez em quando eu deixava meu ombro molhar só pro guarda-chuva te proteger por inteiro. Pegava no seu braço e te trazia pra perto. E andávamos com pressa e em silêncio. O silêncio ganharia de nós em conteúdo se tentássemos abrir a boca. Finalmente, quando cheguei em casa, deixei você se acomodar. Água, bolo e demais cerimoniazinhas de praxe até eu lembrar que a casa sempre foi sua. Sentei na sua frente. E começamos a falar, sufocados pelo peso do ambiente. Eu procurava no seu rosto, desesperadamente, alguma coisa que fizesse, em 2 segundos, todo o nosso sonho voltar pra gente de novo. Mas não voltaria. Dali em diante eu teria que ser forte. Minhas lágrimas vieram antes. As suas apareceram depois. Mas no fundo competíamos, de igual para igual, pra ver que coração estava correndo mais risco de vida. Eu tinha, em mim, uma caixinha com motivos pra pensar que o sentimento nunca foi o dono de toda a verdade, de toda a festa. E dessa vez ele havia me deixado na mão. Eu queria proteger você por inteiro dessa dor que toma o peito e a garganta, que deixa o olho vermelho e embaça a vista a cada minuto. Mas eu não poderia. Precisava, primeiro, era cuidar de mim. E dizer pra você o que a vozinha de dentro de mim sempre me diz: "olhe, vai passar. Sempre passa."
Adorei.
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