Primeiro o amor vem como um mar de felicidade. Uma sensação inexplicável de disposição e vontade. Vem também no corpo de uma ansiedade boa, constantemente impulsionando para o encontro e para as conversas demoradas ao telefone. Amor chega e domina, já mostrando quem é que manda agora que você foi atingido por um dos mais gostosos estados da mente e do corpo humano.
Acontece que o amor também cega de primeira. Cega você pros eventos paralelos que acontecem enquanto se ama, de modo que nada nem ninguém consegue ter a dimensão que tinha antes, quando você enxergava. Tudo é tão pequeno pra quem agora pensa tão grande...
Mas então, chega uma hora em que sua visão começa a ser recuperada lentamente. Não porque o amor acabou, mas porque está passando pra uma outra fase, não menos gostosa de se viver, mas bem diferente da primeira.
Nesse momento, você passa a enxergar aquela cicatriz no supercílio, que não via antes. Passa a detestar a ironia da pessoa de vez em quando ao falar, e isso você também não via antes. O jeito de comer às vezes incomoda, a lentidão pra se arrumar, o gosto para filmes e alguma vezes você se magoa com grosserias e discussões que sempre se iniciam do menor problema que existir no dia.
Nessa hora, o amor toma sua forma mais madura. Em vez de cegueira e conforto puros, o amor também toma a face da coragem. E passa a significar um constante processo de recuperação. Não algo como aquelas massagens cardíacas de reanimação nos últimos minutos do segundo tempo. Não é desespero, nem desgaste pra quem vive esse amor-coragem.
É a força de vontade pra entender que o amor, acima do conforto pleno, é comemorar vitória juntos nas quedas que a vida resguarda por aí. Dar as mãos apesar dos defeitos.
E abrir um sorriso no rosto, de novo, depois de uma longa noite de choro.
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