Foi vendo o pôr-do-sol com você que eu fui notar o quanto aquilo ali descrevia o meu dia. Quer dizer, o sol chega mansinho, escondido, ainda, atrás de uns prédios e morros, meio tímido e preguiçoso, que nem eu tentando acordar pra rotina. Depois que ele levanta, não descansa um minuto sequer. Fica até forte demais, ríspido demais ultimamente, entende? Às vezes, exagera e atinge demais as pessoas. De outras, recebe elogios e se torna um grande personagem de um dia bonito. Ele trabalha e se esforça pra manter justamente o programado em sua agenda. Mesmo que reclamem, mantém a postura do que lhe foi delegado. Duvido que fique bem quando é ofuscado por uma nuvem qualquer; por uma chuva qualquer. Eu não fico.
Por fim, o sol se cansa também. E vai deitando devagarzinho sobre a cama de água salgada que o espera. No fim do dia, não há plateia que o faça ficar de pé por muito tempo. Ele se despede, penso eu, com a sensação de dever cumprido. De descanso merecido. É assim também, por exemplo, que eu luto pra me deitar após todos os cansativos e produtivos dias.
Sei que não tenho brilho igual. Muito menos grandeza comparável. Mas tenho certeza - e essa é plena - de que hoje durmo feliz. Bem do jeito alegre e sorridente com que vi o sol se despedindo da cidade nessa quinta-feira azul.
Lu já imaginou como o arco do sol descrito por você tem um viés parecido com o arco da vida de todos nós? Só que o arco que o sol descreve a cada dia temos a certeza (temos?), como observadores, que ele se inicia e termina num período temporal DAQUELE dia de acordo com os movimentos de translação e rotação da Terra. O arco da vida por sua vez se inicia quando nascemos e pode ser encerrado a qualquer tempo que é quando nos despedimos..Para uns mais cedo, para outros mais tarde. Ás vezes se encerra abruptamente.Nesta condição, apenas temos um mínimo controle sobre tudo isso. Que são as escolhas que fazemos nas encruzilhadas que surgem entre a aurora e o ocaso de nossas vidas. O resto os acasos de cada caminho seguido tomam conta.!
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