Foi vendo o pôr-do-sol com você que eu fui notar o quanto aquilo ali descrevia o meu dia. Quer dizer, o sol chega mansinho, escondido, ainda, atrás de uns prédios e morros, meio tímido e preguiçoso, que nem eu tentando acordar pra rotina. Depois que ele levanta, não descansa um minuto sequer. Fica até forte demais, ríspido demais ultimamente, entende? Às vezes, exagera e atinge demais as pessoas. De outras, recebe elogios e se torna um grande personagem de um dia bonito. Ele trabalha e se esforça pra manter justamente o programado em sua agenda. Mesmo que reclamem, mantém a postura do que lhe foi delegado. Duvido que fique bem quando é ofuscado por uma nuvem qualquer; por uma chuva qualquer. Eu não fico.
Por fim, o sol se cansa também. E vai deitando devagarzinho sobre a cama de água salgada que o espera. No fim do dia, não há plateia que o faça ficar de pé por muito tempo. Ele se despede, penso eu, com a sensação de dever cumprido. De descanso merecido. É assim também, por exemplo, que eu luto pra me deitar após todos os cansativos e produtivos dias.
Sei que não tenho brilho igual. Muito menos grandeza comparável. Mas tenho certeza - e essa é plena - de que hoje durmo feliz. Bem do jeito alegre e sorridente com que vi o sol se despedindo da cidade nessa quinta-feira azul.