sábado, 10 de setembro de 2011

Calmaria

Deitada num deck da Lagoa Rodrigo de Freitas, eu contemplava minha vida esparramada na madeira do meu lado. Cada passo dado por quem chegava pra observar a vista estalava nos meus ouvidos. Do meu outro lado, alguém sentado num long também curtia a serenidade daquele lugar. Um time de remo cavava as águas ao longe e em alta velocidade. Uma criança se aproximava da ponta do deck e, correndo logo atrás, vinha a mãe em desespero, segurando a bola, o carrinho e deixando cair a pipoca. Um casal passava em um pedalinho. Uma família tirava fotos. O cristo se encobria por neblina, provavelmente frustrando os turistas e suas máquinas. O mormaço da manhã aquecia meu rosto. E minha respiração acompanhava a oscilação da plataforma.

O mundo inteiro acontecia.
E eu, deitada sobre o Rio de Janeiro, não ousava emitir nenhum ruído, pra deixar a vida repousando como estava. Os ruídos de fora não atingiam o silêncio da minha mente.

Um vendedor se aproximou. Vendia quebra-cabeças de raciocínio constituídos por umas pecinhas de metal, presas umas às outras.
- Moço, deixe primeiro eu resolver o problema aqui da minha cabeça, que depois compro outros pra me ocupar.
- Mas esses estão num preço ótimo. Faço desconto.
- Tenha certeza de que o preço não é a questão. Esses aqui da minha cabeça têm me custado caro demais, e ainda assim eu tento resolver.

Ele riu. E saiu.

A sintonia com o lugar continuava. Minha vida não acordava por nada.
Talvez quisesse mesmo esse tempinho de paz, cansada que estava.
E eu poderia ficar ali deitada.
Até que finalmente começasse a fluir.

Um comentário:

  1. E nada como um tempo após um contratempo.
    Porque mais vale um quebra-cabeças na mão que dois sobrevoando.

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