quinta-feira, 16 de junho de 2011

Flash

Depois de tantas brigas, depois de tanto choro, tanto grito e tanta despedida sem razão, ela se deitou na cama pra mirar o teto. O silêncio da casa dormida parecia convidá-la para assistir os filmes que se passavam na sua cabeça. Ela se cobriu até a rosto. Como quem se esconde do perigo iminente. Que perigo? Não sabia. Vivia assim, em um estado de alerta contínuo que muitas vezes eram fruto dos alarmes falsos que sua cabeça criava. Descobriu-se. O frio logo veio banhar o rosto. Olhou para o lado, querendo achar o sono, e achou, no lugar, uma máquina fotográfica. Um poço de lembranças digitalizadas no qual ela ousou mergulhar naquele momento. 
No entanto,  para a sua surpresa, nenhuma foto que olhava havia ficado boa. Todas embaçadas. Ofuscadas por qualquer defeito que fosse daquele aparelho de qualidade mediana. Tinham tudo pra ser lindas, as fotos daquela fase. Tinham tudo pra deslumbrar os olhos de quem visse e encher o orgulho do fotógrafo. Mas não. O foco havia sumido. A nitidez nem dava sinal de ter passado por ali.
Ela refletiu, então, sobre o que podia ter dado errado nos flashes da melhor fase de sua vida. 
Logo viu quem ofuscava. Logo viu quem tirava o foco dos momentos em que a felicidade reluzia de tão nítida! 
Era o medo.
Ele embaçou os melhores momentos da vida da menina porque a impediu de cair de cabeça. Embaçou os sorrisos, os abraços, os beijos e as certezas daqueles dias. Por causa do medo, muita coisa não havia sido vivida com clareza, com nitidez; degustando cada detalhe da paisagem oferecida.

Depois da conclusão, outro pensamento veio bater à porta. 
"Se o medo é a limitação da vez, começo a vencê-lo agora. Que venham dias intensos e sorrisos na forma mais pura que a vida pode oferecer. Quero os goles de felicidade em dose dupla, e que todos os mergulhos dados, a partir de hoje, sejam de cabeça, como deveriam ter sido nos dias em que o pé atrás me protegeu, mas, estranhamente, não me fez sorrir logo em seguida". - pensou, de vez.

Ela, então, levantou da cama. E com a máquina em mãos, foi respirar na varanda. Frio. Silêncio. E uma lua absurdamente linda e enorme iluminava com atitude o céu daquela noite. Olhou a máquina...por que não tentar? 

Mirou a lua, linda. Observou com cuidado a tela pequena. Concentrou-se. Sem tremer. E apertou o botão sem mais pensar. Segundos de processamento. E lá estava ela. A foto inteira. Nítida. Perfeita. 
Não havia sinais de ofuscamento. Era uma lua brilhante. Não mais turva, não mais escondida. 

Talvez fosse um novo começo. 
Uma nova chance de não deixar mais que as fotografias se ofusquem, e que a felicidade não fique nítida com há de ser.

Nenhum comentário:

Postar um comentário