Saí da praia
às pressas aquele dia. Mal tinha pisado na areia e já era a fatídica hora de
voltar, arrumar a mala e partir para te ver uma última vez. O sol daquele
Janeiro no Nordeste torrava a cabeça dos preocupados e abençoava os despreocupados
jogados no mar (tudo é relativo). Ah, essa volta. Enchi os olhos de lágrimas,
vestida de férias, mas com a cabeça batendo panelas pelas ruas escaldantes de
João Pessoa.
- O senhor
poderia ir mais rápido, por favor? – perguntei ao taxista.
- Posso sim,
senhora – respondeu meio sem graça ao ver meu rosto vermelho no retrovisor.
Cheguei,
corri pro banho e me arrumei. Vestindo uma regata florida, ouvi reclamações de
que a roupa não era pro clima. Uma regata florida. Você AMAVA flores! Tenho
certeza de que elogiaria a estampa e faria, na semana seguinte, uma roupa ainda
melhor, afinal, sua criatividade nunca encontrou um limite.
No carro,
rumo à mesma Recife fúnebre que encontrei dias atrás, engatei a pensar,
novamente, naquilo que pensava aqui no Rio, jogada na cama, imóvel de cansaço:
por que você? As coisas nunca possuíram lógica desde o dia em que a doença
chegou na sua (na nossa) vida. Eu queria brigar com Deus por nos fazer
experimentar a vida envoltos em mistério, guiados apenas pela fé que precisamos
cuidar para manter acesa. Por nos dar o gosto de viver, mas com a
tarefa de crer. Eu queria brigar com Deus porque você era boa demais pra ir
embora e nós precisávamos muito mais de você do que Ele. Senti raiva. Onde
estava Deus, afinal? Por que nos momentos mais difíceis eu sempre achava que
Ele não passava de uma imaginação humana? Uma criação desesperada?
Parei. A
cabeça quase explodiu naquelas estradas vazias até que lembrei de um detalhe:
você NUNCA questionou. Eu disse: você sabia do seu fim próximo e nunca, nem uma
vez sequer, deixou de amar a vida exatamente do jeito que ela acontecia. Com
dor. Com limitações. Com tratamentos. E com alegria. Você nunca pareceu sequer
suspeitar de que nosso Deus havia te deixado um pouco de lado para tratar de
alguém que, porventura, precisasse mais. Você apenas sorria e permanecia com
seu humor que, cada vez mais, me soava paradoxal. Todo o seu dia, desde o
despertar até o boa noite, era envolto por uma aura esquisita de felicidade
plena e – pasmem - de paz.
Foi aí que
entendi. Todas as vezes em que você dizia que estava tudo bem, eu me dei conta
de quem é que estava falando comigo. Percebi o recado que estava sendo passado.
Percebi que não era mesmo para me preocupar. Que quando você falava, Deus
preparava nossos corações atordoados para ficar em paz do jeitinho que você
estava. Me senti, então, naquelas tardes de Domingo, monótonas, em que saímos
pela casa, tresloucados, procurando por horas o celular que está no próprio
bolso, até acharmos e cairmos no riso. Ou os óculos que estão quietos no rosto.
Ou a caneta agarrada bem ali na mão direita. Não era óbvio? Sorri.
Lindo, Lubinha! Emocionada c sua sensibilidade!Carol
ResponderExcluirObrigada, Carol!
ExcluirMuito bonito, Luba! Ela realmente transmitia implicitamente uma mensagem que hoje me conforta quando reflito. Você conseguiu expressar perfeitamente isso
ResponderExcluirNossa como estou apaixonada por tudo isso!
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