Todas as vezes em que discutíamos, em que passávamos pelo sufoco de colocar os problemas em ordem; todas as vezes em que o coração acelerava de medo e não de amor, eu tinha em mim uma cena, a qual nunca vivi, mas que me ajudava a concluir o que era você pra mim:
eu me via escalando um morro um tanto árido, num sol quente e as coisas pareciam não estar indo como previsto. Um corte no braço feito pelo espinho de uma planta, um joelho ralado por uma quase queda, o rosto queimado pelo sol e a boca seca desesperada por água. No meio do caminho, um terror se instalava: eu esquecia o porquê daquilo tudo. Por que, afinal, eu estava tentando superar a dor? O esforço parecia não ter mais propósito e, estando sozinha, não havia ninguém pra me lembrar. No entanto, ao continuar vivendo o drama, movida por alguma coisa que eu não sabia o nome, eu chegava no topo. E lá, no destino final, a razão daquilo tudo voltava a inundar a mente. A sede, o corte, o machucado e toda a dor estavam a povoar o corpo, mas a alma, agora, era acariciada pela vista mais bonita que meus olhos já tocaram. Então, tudo o que me doía e me afligia, ainda que não pudesse deixar de existir, diminuía de tamanho porque a recompensa era imensamente maior.
Então, eu voltava à realidade e me deparava com você. Eu tinha corte no braço, joelho ralado e umas marcas aparentes. Mas, apesar de tudo, você continha um quê de paz. Oferecia algo que, por ser tão bom, não podia ser mesmo fácil. E eu terminava suspirando a conclusão:
"Apesar de tudo, estamos aqui."
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