domingo, 25 de setembro de 2011

Corrida

Eu costumava pensar que tudo na vida que mexe muito com a gente precisa de um tempo pra ir embora. Não é mágica, não é piscar os olhos e nem acordar no dia seguinte pra nos vermos livres dos pensamentos. 
A questão é, então, por quanto tempo trabalharemos pra ir tirando aos poucos aquilo de dentro de nós. Dose homeopática, eu sei. De pouquinho em pouquinho. Que nem criança pra tirar um curativo...não consegue puxar tudo de uma vez só. Ainda que tenha que sentir cada pontadinha de dor espaçadamente. Pois bem...eu estava indo aos poucos. Permitindo que minha cabeça e coração tomassem seu tempo.
Acontece que um dia cansamos.
Nos vemos suspirando por aquilo que um dia era a razão de nossa disposição.

Simplesmente, então, abrimos mão. Paramos de correr. E sentamos no meio-fio. 
E pela primeira vez não há choro.
Nó na garganta.
Nem nada.

É algo parecido com quando vamos pegar um ônibus parado no ponto à distância. Ele acelera, sem esperar. Então corremos atrás. E corremos. E corremos. E corremos...
Até que, um hora, simplesmente paramos. Voltamos pro ponto e esperamos o próximo.

Acho que me sinto assim agora.
Parando de correr.
E, incrivelmente, sem a sensação de derrota. 
Eu pensava que toda desistência era sinal de derrota.

Dessa vez não...
Eu estava serena.
Com a tranquilidade que tanto havia procurado.
E justamente quando paro de procurar por ela, ela vem cair na minha mão. Me alisar o cabelo. Enxugar o suor. E me abraça forte, finalmente dizendo baixinho:

"Tudo bem, meu bem."

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

E aí você entende que ainda tem suas próprias pernas. Não está impossibilitado de caminhar sozinho nem doou sua autonomia pra ninguém. Lembra de se colocar de novo em prioridade, de onde nunca deveria ter saído. Lembra também que as dores não são eternas...e, no fim das contas, por trás de todo o drama e choro, você ainda sabe andar sozinho. Tá, talvez falte alguns pedaços, talvez seja um esforço descomunal. Talvez, no início, seja só mecânica mesmo essa coisa de seguir em frente. Mas funciona. De algum jeito vai. 
De algum modo você entende (duvidando muito, mas entende) que o coração não parou e você ainda é dono de si próprio.
Nessa hora é que a vida se sente segura, finalmente, pra mostrar as surpresas que ainda guarda pela frente. 
E dá seguimento ao seu processo de cura.

Te provando, mais uma vez (porque você teima em esquecer), que nada que aconteça com você vai, um dia, conseguir ser maior que a imprevisibilidade da vida e a sua admirável capacidade de auto-renovação.

sábado, 10 de setembro de 2011

Calmaria

Deitada num deck da Lagoa Rodrigo de Freitas, eu contemplava minha vida esparramada na madeira do meu lado. Cada passo dado por quem chegava pra observar a vista estalava nos meus ouvidos. Do meu outro lado, alguém sentado num long também curtia a serenidade daquele lugar. Um time de remo cavava as águas ao longe e em alta velocidade. Uma criança se aproximava da ponta do deck e, correndo logo atrás, vinha a mãe em desespero, segurando a bola, o carrinho e deixando cair a pipoca. Um casal passava em um pedalinho. Uma família tirava fotos. O cristo se encobria por neblina, provavelmente frustrando os turistas e suas máquinas. O mormaço da manhã aquecia meu rosto. E minha respiração acompanhava a oscilação da plataforma.

O mundo inteiro acontecia.
E eu, deitada sobre o Rio de Janeiro, não ousava emitir nenhum ruído, pra deixar a vida repousando como estava. Os ruídos de fora não atingiam o silêncio da minha mente.

Um vendedor se aproximou. Vendia quebra-cabeças de raciocínio constituídos por umas pecinhas de metal, presas umas às outras.
- Moço, deixe primeiro eu resolver o problema aqui da minha cabeça, que depois compro outros pra me ocupar.
- Mas esses estão num preço ótimo. Faço desconto.
- Tenha certeza de que o preço não é a questão. Esses aqui da minha cabeça têm me custado caro demais, e ainda assim eu tento resolver.

Ele riu. E saiu.

A sintonia com o lugar continuava. Minha vida não acordava por nada.
Talvez quisesse mesmo esse tempinho de paz, cansada que estava.
E eu poderia ficar ali deitada.
Até que finalmente começasse a fluir.