Imagino como deve ser a vida desses cronistas de jornais e revistas de renome. O prazer de escrever; de correr com a ponta do lápis linha por linha em um papel de rascunho qualquer; de apressar o passo atrás das letras quando elas começam a caminhar com pernas próprias, termina industrializado. O texto tem que sair. O prazo tem que ser cumprido. Os leitores estão esperando, e tempo, desde que você nasceu, é dinheiro!Não...palavras são dinheiro. Mas então, eu acredito que esses escritores devam ter um momento a sós com seus rascunhos. Porque não há coração que segure tanta artificialidade quando o que mais se precisa é de um bom e espontâneo desabafo em rabiscos. Palavras tão gritantes que parecem caladinhas quando deitam no papel. E a tua dor? Logo se cala também. Ainda que provisoriamente. Sim, eles têm desses momentos. Se trancam no banheiro e em vez de pegarem a gilete para maltratar os pulsos, em vez de colocarem a escova de dentes na garganta- como uma adolescente de corpo perfeito- ou em vez de jogarem água gelada na nuca pra passar a ressaca, eles param. Sentam. Pegam dramaticamente um pedaço de lápis ou qualquer coisa que escreva. Um papel amassado do bolso. E se deleitam com os riscos. E o prazer não se descreve nessa hora. É a dose de palavras que pediram o dia todo. Como a dose de uísque que pede o alcóolatra em crise. É a dose de expressão que aquela dorzinha aguda lá do fundo pedia para ter. Discreta, mas torturante. E, acima de tudo, humilde. Porque não queria mil olhos lendo a sua versão escrita. Não queria os holofotes que recebia do segundo caderno do jornal. Da sessão especial da revista. Só queria estar ali, com seu fiel dono em desespero. Pura, simples, escrita, sincera, rápida e espontânea. Ufa. Desculpe. Achei que devesse saber disso.
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