Há 4 anos conheci a minha primeira (e única) doença: a depressão. No início, muito me questionei sobre a real causa disso. Diferente das doenças com as quais eu estava acostumada a lidar na prática médica, não havia um exame preciso que comprovasse a minha condição. Me restava aceitar resignada que era possível, sim, ter a minha personalidade modificada de repente por razões químicas além do palpável. A partir dali, iniciei, sem acreditar muito, tratamentos (farmacológicos e comportamentais) que me devolveram de volta pro mundo (mundo esse que aprendi a amar de novo). Contudo, faz poucos meses que, na tentativa de me despedir das receitas médicas aos pouquinhos, o fantasma de 4 anos atrás retornou à minha vida. Dessa vez, no entanto, mais velha e mais madura, o recebi sem grandes desesperos ou inquietudes - apenas com a tradicional tristeza e fadiga inerentes ao bicho. Percebi que me perguntar o porquê da coisa era equivalente a perguntar o porquê de um ser humano com hábitos saudáveis descobrir um câncer de repente ou mesmo o porquê do início de uma pneumonia em alguém com plenos pulmões: não há explicação. A busca por uma razão é frustra e nos afunda cada vez mais no mar gelado em que mergulhamos. Quanto mais fundo, mais escura e fria a água se torna e, por isso, não caí nessa armadilha desta vez. Agora, diferente de antes, sou capaz até de escrever sobre isso. Com choro fácil (que não me envergonha mais) e com nenhuma vontade de viver o dia de trabalho eu vos informo: estou aqui falando sobre a depressão. Tornando legível o ilegível. Dando uma forma tipográfica à doença invisível aos exames. Dando voz àquela que se alimenta de silêncio. E como este blog é regado a metáforas, inventei uma para representar a depressão: é como andar em um mar de lama até o peito mas, diferente do que seria natural, não se importar muito se, por acaso, se afundar. Não ter muita força pra sair, afinal, a lama é grossa e é necessário muita energia para chegar até a borda. "Tudo bem se eu ficar aqui. Tudo bem se o destino assim o quiser". Alguém consegue imaginar?
Eu, tão dona de mim e dona das minhas grandes conquistas; tão bem-humorada e sociável. Eu, logo eu. Calma! Não há razão plausível. Não há nada além da genética e um compilado de nadas. Eu conheço essa luta. Conheço esse jogo e nele já aprendi a jogar. O passar do tempo tem dessas vantagens: não nos tira da frente do perigo, mas nos dá a honra de já conhecer o inimigo.