Sentamos. A comida do lugar que escolhemos tinha exatamente o gosto da noite que vivíamos: azedo. Um (lindo) filme de 820 dias era exibido na minha frente toda hora que eu resolvia te olhar no olhos. Eu o queria assistir, mas doía na alma em lugares que eu nunca conhecera antes. Tentei não olhar. Contudo, onde quer que meus olhos procurassem refúgio, havia você ali. Percebi que seria impossível não te ver, pois, na verdade, meu olhar havia sorrateiramente invadido teu corpo e tudo o que conseguia enxergar era a tua essência por todos os lados. Eu não via o bar nem seus clientes falantes. Só via o filme que gravamos em dupla, com os olhos presos lá dentro de você, como se alguém os mantivesse abertos à força, até que eu não aguentasse mais segurar o rio que inundava minhas pálpebras. Deixei o rio me levar, do mesmo jeito que deixei essa corrente me refrescar no nosso primeiro encontro.
Sabe, olho as inúmeras marcas tuas na minha vida e me pergunto qual delas eu gostaria de deixar em você. Uma música dessas que eu tentava tocar? Um cheiro bom dos nossos cafés? Cheiro da minha pele ou do cabelo ao acordar? Sob que forma quero ocupar tua memória? - pensei. Já sei. Quero ser o carvalho gigante, que ninguém viu crescer na lentidão e simplicidade de muda, mas que, de repente, ocupa seu lugar na vida com grandiosidade e beleza. De repente, o carvalho gigante está lá e ninguém sabe como adquiriu tanta força nas raízes para sustentar o seu tamanho.
Quero ser o carvalho gigante e, assim, esbanjar na tua vida a beleza gritante com que você fez eu enxergar a minha.
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