Tenho respirado fundo. Todo dia, quando chega a hora de ir embora, eu me levanto, pouso o copo na mesa e dou um abraço apertado em quem quer que seja o da vez. Abraço com ternura todo mundo a quem não posso mais dizer o rotineiro "see you". Olho nos olhos pra fotografar o rosto e, então, me sento de novo com os ombros tensos e um choro escondido dividindo a garganta com um gole de cerveja.
Tenho respirado fundo pra ver se junto com o ar vem um sopro de paz. Pra ver se a alma se acalma e se retenho em mim tudo o que eu puder sugar daqui. Tenho sentido os gostos de todas as comidas, provado todas as bebidas, abraçado cada um com um abraço prolongado e deixado a cidade atiçar meus sentidos. Acordo com o coração acelerado, mas faço o dia valer a pena e no final, mesmo que a dor volte, eu tenho sido forte. Desde o início, aprendi a caminhar com dor. Agora, no final, todo esse aprendizado já me deu calos o bastante pra todo dia arrumar uma razão pra ser feliz.
Aqui eu aprendi a contar o tempo em semanas e entendi o valor de cada um dos sete dias. "Um dia após o outro" - repito 20 vezes como criança se esforçando pra decorar a tabuada. É difícil, sabe? Mas não sou mais de me entregar assim fácil. Penso que vou ter que abandonar uma casa, mas logo ali do outro lado também tem coisas que eu deixei. Vou descansar o corpo e a mente e sei que vão cuidar de mim. Até que, sem notar, vou acordar e respirar o ar de lá. E alguma hora vai fluir e preencher a alma de novo. Devagarzinho vou respirando e sentindo novamente o ar de lá encher o peito. E os rostos, os cheiros e os gostos me botando cara a cara com a outra parte de mim. Me lembrando que a vida é mesmo feita de ciclos e me ensinando, novamente, que toda vez que um acaba, outro novo começa.
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