segunda-feira, 2 de maio de 2011

Pausa

E de tão boa que havia sido essa última fase, ela acabou esquecendo que a vida tem umas quedas repentinas. Tudo bem, o dia havia sido ruim e ela, sem querer, deixara a paciência cair em algum lugar pela rua. Pelo menos ela sabia que a tristeza não era apenas pelos detalhes indesejados do dia, mas havia recebido uma contribuição significativa de dias anteriores, que resolveram gritar só agora. Era assim que funcionava. Os problemas, no fundo, no fundo, reconhecem o quão inconvenientes são e procuram dar o ar da graça logo de uma vez só, pra que a dor não seja lenta. Podem ser antigos ou recentes, mas possuem a incrível capacidade de pegar um dia, escolhido a dedo, pra mexer com a sua cabeça. Fazem isso porque são experientes, e sabem que é melhor tirar o curativo com um único puxão do que ir pelas bordas, sentindo cada pontada de dor aguda, como se a ferida fosse 5 vezes pior do que realmente é.

Desculpe o fluxo de consciência, mas achei que você devesse saber disso.

Então, o dia estava chegando ao fim. Uma decepção ali, um atraso aqui, doses de preocupação, pessoas indesejáveis e pronto. Explodia a vontade de sumir um pouquinho, como há muito não aparecia. Queria começar pelas pessoas, dar um tempo de todas. Depois olhar pra dentro dela e ver o que tinha saído do eixo. E assim iria se acalmando. Mas das pessoas...sim, precisava de um tempo. Tinha essas crises de misantropia às vezes, que duravam pouquíssimo, mas tinham seu lado bom depois, ela sabia disso. Talvez estivesse sendo generalista, mas era mais fácil assim. Ninguém precisava saber, então, tudo ok. Logo, logo a paz voltaria. E com ela, a normalidade.
"Vá dormir. Pelo menos o dia acaba. Talvez 00:05 já seja um dia melhor."- disseram a ela. 
E talvez esse tenha sido o pedido mais racional para o momento.
Ela então deitou. Sentiu as costas agradecendo por isso. A cabeça então, respirou aliviada.
Os pensamentos, nessa hora, tentaram invadir a cabeça dela, como sempre fazem antes do sono profundo. E se sempre têm sucesso, hoje não o conseguiram. Estava proibido pensar em coisas naquela hora, quanto mais em pessoas. Deram meia volta, e foram habitar outras cabeças inquietas.

Para ela, o setor de pessoas e pensamentos estava temporariamente interditado. Coisa boba, parecia. Mas só ela sabia o quanto era necessário.

Nenhum comentário:

Postar um comentário