De repente, foi ficando difícil navegar. Eu não aguentava mais resolver os pepinos pra continuar viajando e, com medo de qualquer tempestade destroçar o meu barco mal acabado, passei a abrir mão dos momentos de descanso para estar atenta. Estive atenta, porém, um barco meia-boca não aguenta as brincadeiras de mau gosto do mar.
Um dia, percebi que se eu parasse de aparar as arestas, de fazer reparos e de me preocupar, ninguém notaria, pois eu estava sozinha e o barco era meu. Parei, então, e logo de cara o mar cresceu e virou a embarcação e suas gambiarras água adentro. Era um mar oportunista, que aguardara sorrateiro o meu barco enfraquecer. O mar só respeita os fortes e, vendo que eu não podia mais lutar contra ele, me trouxe pra dentro dele, pensando que era o único lugar do qual eu pudesse fazer parte agora.
Caí num gelado lancinante e, diferente dos outros, não lutei contra. A adrenalina não correu nas minhas veias e deixei que o gelo azul me tirasse a sensibilidade dos pés e das mãos. O que o mar queria de mim? Um coral de carne e osso atapetando as profundezas? Não sirvo, não quero. Os corais possuem vida! Os corais fazem por onde. O mesmo mar que quis me tirar do mundo não tem um lugar pra mim no seu fundo. Eu flutuo, então. Eu escolho pra onde vou. Meu protesto é flutuar. É estar sem estar em lugar nenhum.
Caí num gelado lancinante e, diferente dos outros, não lutei contra. A adrenalina não correu nas minhas veias e deixei que o gelo azul me tirasse a sensibilidade dos pés e das mãos. O que o mar queria de mim? Um coral de carne e osso atapetando as profundezas? Não sirvo, não quero. Os corais possuem vida! Os corais fazem por onde. O mesmo mar que quis me tirar do mundo não tem um lugar pra mim no seu fundo. Eu flutuo, então. Eu escolho pra onde vou. Meu protesto é flutuar. É estar sem estar em lugar nenhum.