Retornando à casa em um domingo nublado, com pistas vazias e um silêncio desértico na ilha em que eu, como um pêndulo, ia e voltava todos os dias. As tardes pós-trabalho não me animavam jamais, no entanto, guiavam meus pensamentos pelos mais profundos caminhos de uma mente cansada da superfície.
Em algum quilômetro do caminho, avistei um menino soltando pipa em cima de uma laje, sem ligar para a ameaça de chuva.
Pensei no quanto as pipas já me ensinaram sobre o amor. Veja bem, nunca há controle total do carretel sobre a pipa e, por vezes, se a deixarmos voar bem alto, talvez não volte igualzinha ao que era em nossas mãos. Uma vez, encurtei demais a linha para que eu nunca perdesse a pipa de vista e pudesse observar melhor seus movimentos, porém, ao invés de dançar conforme o vento, a pipa se descoordenou de repente e quebrou com um choque ao chão. Ainda com a linha curta, pude vê-la rasgar à medida em que resistia às rajadas de ar ao invés de deixar o vento guiar, como nas vezes em que voava alto.
As pipas me lembram o amor. Nos dias de céu azulzinho, a linha, se esticada ao máximo, chega a sumir de vista, mas sentimos que está lá, unindo um ponto ao outro com o mínimo de tensão. Quanto mais alto deixamos ir, menos força nos é exigida, pois uma estabilidade celeste controla por nós o incontrolável.
Gosto de pensar nos seus voos em outros céus. Nem sempre é fácil, eu sei. Voar por alguns cantos pode gerar medo. Mas a maior felicidade é te ver voltar pra mim com histórias pra contar, como toda boa pipa que saiu pra voar alto.