Às vezes eu tinha raiva. Preferia não pensar em você. Não ver você. Não ler você nas fotos e nem assistir a você nas lembranças. E logo me dava conta, rindo, de que a raiva durava o incrível tempo de 3 minutos.
Eu sentia você, de algum modo, perto que nem naquelas horas em que a gente escuta um barulho apitando e não sabe de onde vem. Cola a orelha na mochila pra ver se é o celular. Aperta todos os botões do relógio digital. Coloca a culpa no celular alheio. Vai conferir se a geladeira ficou aberta. E nada. Não se pode encontrar da onde vem o diacho do barulho, mas há a plena certeza de que está presente. "Olha agora! Está aumentando" - repito com a orelha colada no ar, os olhos arregalados e o dedo apontando pro nada, na pose de alerta da pessoa mais perdida que poderia haver na cidade.
Pois estou assim. Me apegando ao nada pra fazer você viver em mim. Às vezes acordo ótima e tenho vontade de pular de paraquedas. Noutros dias dá saudade e eu fico me convencendo, sozinha, de que você está aí. Meio longe, mas está. Meio quieto, mas está. Meio na sua, mas está.
Bem ali. Eu juro que escuto.
Sozinha, mas escuto.