Quer dizer, o momento era sempre notado por mim. Como um flash imperdível, os meus olhos sempre tiravam a foto daquele seu sorriso, tão típico e tão único, que não dava o ar da graça todo dia. Só de madrugada, com uma meia luz ligada, com nenhuma preocupação e ninguém presente além de nós três. Eu, você e a nossa felicidade, que de tão forte e compartilhada, se fazia como um terceiro a brincar de plantar sorrisos em nossas bocas. E o seu se fazia sempre daquele jeito memorável. Era um riso frouxo. De quem curte uma paz que toma logo o corpo inteiro, relaxa os músculos e a respiração, a ponto de o sorriso, grande palco da nossa felicidade humana, ter preguiça de sair. Não por falta de motivos, mas pela paz que aparecia quando estávamos juntos. E então, eu via os ângulos da boca se afastando devagar, as rugas tomando o seu papel de rugas e os dentes, bem tímidos, surgindo pouco a pouco. Depois, com os olhos meio baixos, você completava a cena com um grande suspiro demorado, sem maltratar o ar que te alimentava naquela hora.
Por fim, esse sorriso, como se já não tivesse me causado um grande leque de efeitos, ainda ousava provocar outro bem bobo no meu rosto.
Raro, trabalhado e, de fato, bonito, esse seu riso preguiçoso é uma das coisas na vida que me atingem a alma sem pedir licença.