E nesses meus dias de paz e vida mansa, eu também parava pra observar, como alguém que assiste a um filme, de que modo estava minha cabeça agora.
A resposta vinha logo: uma verdadeira bagunça, por assim dizer.
A cabeça, que sempre fora mestre em me livrar das atitudes passionais de menina, agora estava um embaralhado só. Quando entra em conflito extremo com o coração, dá mesmo pane no sistema. E dessa vez, era pra valer. Na verdade, não é de agora. A bagunça dentro de mim ficou como parasita, fugindo do baú de coisas chatas que a gente deixa no ano que passou, toda vez que, do último dia do ano, fazemos nascer uma nova vida. Cobra troca de pele, cigarra de esqueleto, e nós, como bons sonhadores, trocamos de vida a cada 12 meses.
Pois bem, eu não poderia começar o ano assim. Ainda com a ânsia de quem se deslumbra exageradamente com o mundo...com as coisas boas da vida. De fato, a bagunça a que me refiro é essa. Minha ambição e vontade de tudo ao mesmo tempo. Quero sair vestida de todas as cores, ver todos os rostos num só dia, provar de todas as comidas que puder e ouvir todas as vozes no celular. Quer dizer, perseguir prazeres, todo mundo faz. Mas conciliá-los é uma forma de usufruir da coisa ao máximo, e não de deixar de aproveitar a vida, como pode parecer aos hedonistas.
Enfim, quero pausa e organização. A pausa eu já tive, das grandes até. E a organização das minhas vontades e objetivos será o primeiro item da lista que ainda venho confeccionando. Sim, eu sei. Todos começam o ano com seus planos armados, vestidos da cor que lhes parece condizente com os desejos mais intensos. Verde é esperança, amarelo pro dinheiro...etc. Então, esse ano eu menti. Pulei as 7 ondas sem sequer ter um desejozinho que me tocasse lá no fundo, além dos clássicos "saúde, paz e sucesso".
Ta aí. Que eu pare de querer tudo ao mesmo tempo e espere a clareza chegar, que nem criança comportada.
Nenhuma cigarra pode crescer se não adquirir um esqueleto novo.
Por que meu ano deveria começar antes de acatar uma nova meta?
Feliz ano novo.