quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Boas vindas

Sim, eu sei que a saudade aperta quando a gente tá longe. Eu conheço a saudade. Nós já conversamos...já até perguntei a ela se não podia aliviar a barra às vezes. Mas ela, esperta como sempre foi, se disse essencial, e falou ainda que apesar de devastadora, é ela que mantém de pé esses amores que de vez em quando tropeçam por aí. Mas você, meu bem, não tem me deixado muito ser amiga da saudade de uns tempos pra cá. Você fez ela crescer tanto que me deixou pequenininha com minha máscara de resistente-e-imune-a-essas-sensibilidades-e-frescuras e me fez sentir sua falta como uma criança sente falta dos pais quando viajam, do cobertor especial, da bagunça na cama dos pais e dessas coisas mil que constroem nossa vida. Mas, não somos crianças, meu amor. Sei que logo você chega. E quando eu te encontrar, a saudade trata de te explicar também que diabos ela estava tramando esse tempo todo. Afinal, dois ímãs deixam de se atrair quando se aproximam depois que um longo afastamento? Que nada. 
A Paraíba tem amanhecido com cada sol, que você não imagina. 
Mas perde pro verão no meu sorriso. Só esperando você chegar aqui.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Boa viagem

Esse ano ela havia prometido que acertaria na mala. Tudo bem, ela não era boba. Sabia que o excesso de roupas sempre existiria. Sabia que voltar para casa com blusas intactas era um fato que se repetia a cada ano. E sabia que não era hoje que entraria no mundo das estranhas criaturas compactas e econômicas em suas bagagens. Não era aos panos que se referia. O que havia sabiamente prometido era que deixaria em casa a sacola dos problemas. Todos os anos, essa inconveniente bagagem de mão acompanhava a sua viagem pro paraíso, não cabia no compartimento da aeronave (o que causava um desconforto nas pernas durante todo o vôo) e, estranhamente, rasgava uma das alças durante o desembarque. Era assim, e não se sabia explicar o motivo. Talvez o próprio conteúdo da sacola já falasse por si só. Esse ano, então, seria diferente. Não foi um decreto. Não foi um esforço. Foi a pura e espontânea felicidade que havia tratado de aposentar os problemas. Esse ano era dela. Essa criatura (sim, a felicidade) não anda por aí em qualquer esquina, mas, quando resolveu dar o ar da graça, chegou em onda. Com uma força e elegância inimagináveis. Tomou as rédeas da vida da menina cansada e séria e dominou, num piscar de olhos, o mais incrível turbilhão de boas energias, boas sensações e bons momentos que agora caíam do céu como chuva forte e refrescante. Ela tinha esse poder, a felicidade. O sorriso da menina de olhos castanhos passou a não mais caber no rosto, e então ela agora distribuía por aí. " É verão" , dizia ela. " É verão no Rio de Janeiro. Mas é verão em mim também". E em alguns momentos, quando chegava na paz de sua casa, ela largava a bolsa no quarto, olhava para a felicidade em pé, ali na sua frente, e logo dava um abraço, sem saber como poderia demonstrar estar tão grata. E brindavam juntas, com cerveja bem gelada, essa coisa intangível e imprevisível que carinhosamente chamavam de vida.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Pra não doer demais

Existem pessoas que simplesmente estão de passagem. Você pode sentir saudade. Querer que volte. Que o filme se repita. Mas não sabe que elas entraram na sua vida para realizarem a dolorosa função de saírem dela um dia. Aqui no meu desabafo ninguém morreu não. Ninguém desapareceu, nem deixou de existir. É gente que continua existindo depois sair pela porta dos fundos. Mas algum dia, não se sabe por que nem muito bem a partir de quando, a pessoa foi a peça perfeita no quebra-cabeça da sua vida. Mas, sendo a vida um processo, uma coisa fluida, mutável, inconstante e absolutamente imprevisível, deixe-me revelar a você que todas as peças mudam de forma nesse jogo. E simplesmente um dia você acorda sem encontrar o encaixe perfeito que existia anteriormente. E aí parece que fica um buraco. Parece que a coisa desanda. Mas é só a vida te cobrando um tempo pra que tudo se ajeite novamente. Então outra peça toma o lugar da antiga. Trazendo a harmonia que você tanto se esforça pra ter consigo, sempre. Mas que graça haveria se todos os encaixes de gente na tua vida fossem perfeitos? Graça nenhuma, eu te digo. A dor da despedida não é pior que a dor silenciosa da rotina. É melhor tirar o curativo de uma vez só, do que puxá-lo lentamente, ponta por ponta, e você já está cansado de saber. Toda pessoa incrível que sai de nossas vidas do dia pra noite, toda peça que muda de forma pra você é um curativo puxado em 1 segundo. Quando você tenta remoer o ocorrido, tenta voltar, se martiriza forçando um contato que já não existe mais, que já não faz mais sentido a não ser na ilusão que você mesmo constrói por medo de enfrentar a coisa de cara, quando age desse jeito, está puxando o curativo da forma mais lenta que pode. Mais dolorosa. E sem assoprar.

domingo, 2 de janeiro de 2011

Aos editores

Imagino como deve ser a vida desses cronistas de jornais e revistas de renome. O prazer de escrever; de correr com a ponta do lápis linha por linha em um papel de rascunho qualquer; de apressar o passo atrás das letras quando elas começam a caminhar com pernas próprias, termina industrializado. O texto tem que sair. O prazo tem que ser cumprido. Os leitores estão esperando, e tempo, desde que você nasceu, é dinheiro!Não...palavras são dinheiro. Mas então, eu acredito que esses escritores devam ter um momento a sós com seus rascunhos. Porque não há coração que segure tanta artificialidade quando o que mais se precisa é de um bom e espontâneo desabafo em rabiscos. Palavras tão gritantes que parecem caladinhas quando deitam no papel. E a tua dor? Logo se cala também. Ainda que provisoriamente. Sim, eles têm desses momentos. Se trancam no banheiro e em vez de pegarem a gilete para maltratar os pulsos, em vez  de colocarem a escova de dentes na garganta- como uma adolescente de corpo perfeito- ou em vez de jogarem água gelada na nuca pra passar a ressaca, eles param. Sentam. Pegam dramaticamente um pedaço de lápis ou qualquer coisa que escreva. Um papel amassado do bolso. E se deleitam com os riscos. E o prazer não se descreve nessa hora. É a dose de palavras que pediram o dia todo. Como a dose de uísque que pede o alcóolatra em crise. É a dose de expressão que aquela dorzinha aguda lá do fundo pedia para ter. Discreta, mas torturante. E, acima de tudo, humilde. Porque não queria mil olhos lendo a sua versão escrita. Não queria os holofotes que recebia do segundo caderno do jornal. Da sessão especial da revista. Só queria estar ali, com seu fiel dono em desespero. Pura, simples, escrita, sincera, rápida e espontânea. Ufa. Desculpe. Achei que devesse saber disso.