domingo, 16 de outubro de 2016

Filme

Houve horas em que te observei sem que você percebesse, como um filme daqueles que a gente não espera encontrar ao passar os canais da TV numa noite quieta de sábado. Assistia a trechos, depois mudava o canal subitamente e voltava a prestar atenção no entorno. 
O filme de você era bonito demais. Em algumas cenas, você tentava ajustar a música com o computador apoiado no degrau da escada. Nessa hora, eu assisti ali do alto do corrimão em silêncio. Outras vezes, passava por mim com pressa, procurando alguma coisa que há segundos estava na sua mão ou mudando as almofadas de lugar. A câmera dos meus olhos acompanhava sem perder detalhe algum, até que parou e filmou você de costas, captando o áudio que vinha do violão e, de vez em quando, uns sorrisos de perfil que você deixava escapar. Às vezes não havia foco, porque eu estava perto demais. Outras vezes, havia só um corte bem de pertinho das curvas das suas costas, me lembrando aquelas dunas de areia intocadas do deserto, lisas e sem nenhuma imperfeição, nas quais a gente tem vontade de se jogar quando vê em foto por aí. Fazia calor mesmo. De vez em quando subia um fogacho me queimando a pele, mas o frio na barriga - constante elemento dos meus encontros com você - tratava de refrescar o corpo inteiro pra mim.

Você é filme. Me lembra a música de Cordel, numa versão modificada. Você é filme! "Eu sei pelo cheiro de menta e pipoca que dá quando você passa. Eu sei porque eu sei muito bem como a cor da manhã fica. Dá felicidade, dá duvida, dor de barriga!" Você é filme.

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